Editorial: Primeiro como tragédia, depois como farsa

Atual gestão na Celesc repete atitudes equivocadas do governo passado

O ano 2023 teve um início atribulado. A transição entre os governos Moisés e Jorginho levou à Celesc uma irreal tentativa de permanência forçada do ex-Presidente da empresa, Cleicio Martins, com direito a exposição midiática e renúncia coletiva dos Conselheiros indicados por Moisés. Com a articulação de Lírio Parisotto e anuência dos derrotados na eleição, foram necessárias duas reuniões do Conselho de Administração para o término da antiga gestão. Após quatro anos de ataques e luta incansável dos celesquianos, a queda dos indicados pelo “comandante” iniciou um ano de expectativas.

Pois 2024 começa com um cenário mais consolidado, mas nada bom. Ao longo de 2023, as expectativas de melhores dias foram sendo engolidas pela realidade: a nova Administração muito lembrava a anterior. No livro “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, Karl Marx escreve que a história acontece como tragédia e se repete como farsa. Esse conceito retrata coincidências históricas, em que a nova versão se transforma em caricatura. Ao fim de 2023, a atual Administração da empresa havia se tornado uma caricatura de sua antecessora. Apesar de vender a ideia de uma “Celesc Pública, mais forte e mais eficiente”, o que vimos foram as mesmas propostas em diferentes roupagens.

Na relação com os/as celesquianos/as e suas entidades representativas, a Diretoria reproduziu a já conhecida omissão diante das reivindicações dos trabalhadores. Foram meses de negativa em negociar acordos importantes, que só saíram do papel após paralisações organizadas pelos sindicatos. Aliás, a reação às paralisações ligam as duas Administrações. Enquanto a gestão anterior investia na ameaça por e-mail, a atual tentou impedir que os sindicatos conversassem com a categoria. Num arroubo de autoritarismo, tentou impor dificuldades ao trabalho sindical.

O momento para o cerceamento do direito de trabalhadores se mobilizarem também chamou a atenção: foi após uma grande manifestação, realizada durante reunião do Conselho de Administração, na qual trabalhadores lutavam contra uma alteração do Estatuto Social da Celesc que permitiria a realização indiscriminada de reuniões virtuais, que a Diretoria decidiu impor a censura à categoria. Ou seja, uma manifestação que visava garantir o direito de mobilização e pressão na defesa da Celesc Pública teve como resposta a deliberação que dificultava exatamente este direito.

A prioridade dada à distribuição de mais lucro aos acionistas também une as duas Administrações. Na era Cleicio, o aumento dos percentuais de lucro focavam na insolvência da Celesc Geração, abrindo caminho para a privatização.

Já a administração Tarcísio vai abertamente aumentando a distribuição do lucro aos acionistas, elevando o endividamento da Celesc. Ao recorrer a financiamentos para pagar dividendos, essa Administração abre uma perigosa porta que pode inviabilizar a Celesc e colocá-la na rota da privatização. Vale lembrar que o Governador do Estado, durante campanha, foi categórico ao afirmar que não aumentaria o percentual do lucro a ser distribuído aos acionistas. Está, então, a Administração na contramão do Governador ou a palavra dada não tem valor? Até as denúncias unem a antiga e atual Administração.

Enquanto o Presidente anterior foi investigado por conflito de interesses (uma vez que mantinha vínculo trabalhista com empresa concorrente da Celesc), por viajar com dinheiro da empresa para Paris e por ter abandonado a empresa após o resultado do primeiro turno da eleição 2022, Tarcísio é denunciado por ter contratado, sem licitação, consultoria que havia trabalhado com ele na Amazonas Energia. Essa mesma consultoria tem ligação societária com um membro do Comitê de Auditoria Estatutário da Celesc, indicado pelo Governo do Estado e que foi diretor da Amazonas Energia no mesmo período em que Tarcísio foi Presidente.

De tudo isso, o grande problema é a visão que se apresenta para o futuro da empresa. A gestão anterior trouxe para a Celesc uma visão de empresa privada. Cleicio queria ter o poder de demitir quem quisesse, na hora em que quisesse e, por isso, foi inimigo da Garantia de Emprego. Tarcísio trouxe a lógica da precarização, com sua recusa em contratar novos trabalhadores e uma efusiva defesa da terceirização. Um quadro de pessoal que, além de defasado, não tem sido cumprido, somado ao aumento da terceirização, faz parte de um planejamento que, no fim das contas, leva a Celesc para o abismo da privatização.

A dinâmica é velha. Primeiro se precarizam as condições de trabalho através do esgotamento físico e mental dos empregados, já desmotivados pela falta de pessoal. A precarização das condições de trabalho leva à queda na qualidade do serviço prestado à população. Não é coincidência que as empresas privatizadas que investiram em uma agressiva política de redução de quadro de pessoal próprio têm hoje figurado nas notícias pelo péssimo atendimento.

A manutenção da Celesc Pública depende do bom atendimento ao povo catarinense e, no caminho apontado pela Diretoria, teremos a sociedade contra a empresa e a favor da privatização.

Nesse período, a comunicação da Celesc com a sociedade melhorou, a propaganda está bem feita. Mas diante da atuação e direcionamento dado pela Diretoria, não deixa de ser uma caricatura. Cada fala exaltando os trabalhadores contrasta com a precária política de gestão de pessoas.

Cada prêmio pela qualidade do atendimento contrasta com a defasagem do quadro de pessoal, com a falta de trabalhadores e com a política da Diretoria de ampliação da terceirização. Cada exaltação do trabalho dos celesquianos diante dos “eventos climáticos extremos” contrasta com a adoção por parte da Diretoria de uma política de recursos humanos que destruiu empresas como Enel-SP e Equatorial-RS, com agressiva redução do quadro de pessoal próprio, que tem deixado a população abandonada e semanas sem energia.

Essa breve retrospectiva situa a nossa luta neste ano. A luta é exatamente contra a lógica da eficiência que serve de mantra para esta Administração. Passado um ano, fica evidente que essa lógica é aquela que dá prioridade aos lucros em lugar do bom atendimento à sociedade. A aprovação do orçamento para 2024 demonstra a Celesc que a Diretoria quer: uma empresa sem condições dignas de trabalho, com serviços de baixa qualidade e uma dívida crescente para pagar dividendos (lucros!) aos acionistas. Em resumo: o caminho deles é pela privatização.

Assim, 2024 inicia de onde parou 2023: na luta pela recomposição do quadro de pessoal, pela redução da terceirização e pela construção coletiva de uma empresa pública
que cumpra seu papel social. Deixando de lado o discurso de eficiência do Presidente da Celesc, Tarcísio Rosa, e que não passa de retórica, discurso puro, apenas para acobertar os ataques aos trabalhadores e à empresa pública. O papel dos celesquianos é lutar, hoje e sempre, pela CELESC PÚBLICA, BOM PARA TODO MUNDO!

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