CARTA ABERTA AOS DIRETORES PILAR E VARELLA

Prezados Diretores, acusamos com repúdio o recebimento da sua resposta à correspondência encaminhada pelas entidades sindicais no dia 08 de abril, informando que após um ano de respostas evasivas e de promessas não cumpridas, a categoria realizaria movimento de interrupção de viagens por conta dos problemas na política de gestão de hospedagens e na insuficiência do valor das diárias. Aproveitamos para parabenizar a proatividade: foram necessárias só 3 semanas e uma subestação com problemas para a Diretoria se manifestar!

Deve ser essa a disposição ao diálogo que cita a correspondência: “a Diretoria mantém o diálogo sempre aberto, recebendo os sindicatos e categorias, de forma que não visualiza razão para mobilização ou mesmo paralisação das atividades, as quais são essenciais ao serviço de distribuição de energia”.

Mas vejam bem, sem querer ser chatos, temos que apontar algumas incoerências de vocês, que assinam essa correspondência. Dói ter que apontar os erros de Diretores que são empregados de carreira da Celesc e que já estiveram no nosso lugar. Mas é preciso, afinal de contas, muito já ouvimos falar da perda de memória que um cargo pode causar em quem não se considera trabalhador.

Duas coisas do texto da correspondência de vocês saltam aos olhos: a disposição ao diálogo e a falta de motivo para a paralisação. Talvez seja verdade que vocês tenham tanta disposição ao diálogo. Deve ser por isso que nunca dão um encaminhamento. Afinal de contas, a política de viagens foi mudada por vocês há um ano, foram realizadas inúmeras reuniões da Comissão de Recursos Humanos, reuniões específicas, reunião com o próprio Presidente da Celesc, abaixo-assinado, tudo apontando que o novo modelo trazia problemas tanto nas hospedagens quanto na alimentação e, mesmo assim, o máximo que a Diretoria fez foi prometer continuar estudando o assunto.

Aliás, afirmar que foram implementadas “várias melhorias” na política de viagens já é uma forçada de barra. A mudança na forma da política de viagens trouxe um caos que expõe os trabalhadores a problemas de saúde e segurança desde sua implementação. Novamente, talvez vocês precisem reler as ATAS das CRHs, porque lá está amplamente detalhado, inclusive com compromissos assumidos e nunca cumpridos pela Diretoria. Assim, é provável que vocês assinam embaixo desse absurdo porque não viajam pelas Regionais e não conhecem a realidade dos trabalhadores.

Mas aí tem uma outra contradição: você, Diretor Varella, tem feito um tour tão grandioso divulgando o trabalho realizado no último ano que é impossível que não use diárias. Claro que usa! Mas não a dos trabalhadores. Veja bem, quando você vem na nossa Regional passar uma apresentação no power point, tendo cafezinho, água e puxa-sacos à disposição, você ainda ganha mais do que nós, que estamos em campo realizando as “atividades essenciais ao serviço de distribuição de energia”.

“A política de viagens foi mudada por vocês há um ano, foram realizadas inúmeras reuniões da Comissão de Recursos Humanos, reuniões específicas, reunião com o próprio Presidente da Celesc, abaixo-assinado, tudo apontando que o novo modelo trazia problemas tanto nas hospedagens quanto na alimentação e, mesmo assim, o máximo que a Diretoria fez foi prometer continuar estudando o assunto.”

Na mesma normativa que apresenta os valores rebaixados da nossa diária, está lá um belo campo onde a diária da Diretoria, dentro do estado, é 40 reais maior do que a dos celesquianos nos grandes centros e 20 reais a mais nas demais cidades. Lá em Brasília, onde você foi palestrar na Agência Nacional de Energia Elétrica e colher os louros do nosso trabalho que faz da Celesc exemplo no atendimento à sociedade em situações de calamidade, sua diária foi de R$ 225,00.

Já a Diretora, que tem cafezinho e recebe suas frutinhas na sala, não deve saber mesmo como é a realidade de quem está em campo trabalhando. Não consegue compreender o que é passar o dia no trabalho pesado, sem acesso a comida e água. Aliás, vocês sabiam que água e comida não surgem do nada? Nós não temos secretárias, assessores, assistentes para entregar para nós. E também não ganhamos mais de R$ 50 mil para tirar do nosso próprio bolso o básico da alimentação para aguentar mais um dia de trabalho duro, para que, no fim das contas, além do descaso e desrespeito conosco, nosso esforço ainda seja utilizado em uma correspondência vergonhosa, afirmando não haver motivos para mobilização.

Mas, se falta a compreensão, deveria haver o mínimo de empatia. Vocês são empregados da Celesc. Companheiros de trabalho. Ou, pelo menos, deveriam ser. Não importa que ao deixar o cargo de chefia vocês herdem no salário o topo da tabela. Era para vocês, mais do que os demais, terem respeito com os trabalhadores. Vocês, que têm a responsabilidade de gerir as duas diretorias que mais têm impacto sobre os trabalhadores, se esqueceram do que é ser um celesquiano. E se tem uma coisa que a categoria nunca esquece é a traição.

Para fechar a incoerência desta correspondência, o patético pedido por compreensão dos empregados é uma porta fechada. Enquanto vocês chancelam com suas assinaturas que as coisas vão ficar assim mesmo, dizem no parágrafo seguinte que mantém o compromisso de manutenção do diálogo. Isso é um sim para a mediação do Ministério Público do Trabalho? Porque, sinceramente, parece que vocês têm dificuldade com o diálogo, não compreendem muito bem como ele funciona e, considerando que avanços são urgentes, a mediação talvez ensine um pouco a vocês.

Ver a assinatura de dois Diretores “da casa” em uma carta que é um mero cala a boca é mais do que lamentável. É uma ofensa a todos os trabalhadores da Celesc.

“Vocês são empregados da Celesc. Companheiros de trabalho. Ou, pelo menos, deveriam ser. Não importa que ao deixar o cargo de chefia vocês herdem no salário o topo da tabela. Era para vocês, mais do que os demais, terem respeito com os trabalhadores. Vocês, que têm a responsabilidade de gerir as duas diretorias que mais têm impacto sobre os trabalhadores, se esqueceram do que é ser um celesquiano.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.