Tribuna Livre – Trabalho remoto e produtividade: uma relação que deu certo!

Por Cristiano dos Passos, trabalhador da Celesc desde 2004

Entre março de 2020 e dezembro de 2021, motivados por um evento negativo, tivemos que nos adaptar a uma nova forma de trabalhar, longe dos colegas, das salas cheias, dos papos diários no corredor, das reuniões etc.

Num primeiro momento, tudo parecia estranho e complexo demais, mas em alguns dias os trabalhadores da área de tecnologia já tinham tudo preparado para o trabalho remoto de uma empresa gigante, com mais de 3 mil empregados espalhados pelo Estado de SC. Além disso, em algumas semanas, os trabalhadores de outras áreas já haviam dominado a tecnologia do home office e o trabalho seguiu sem interrupções.

Aos poucos, as reuniões voltaram via Teams, as assinaturas eletrônicas rapidamente foram criadas e os impressos foram substituídos por arquivos digitais. Apesar das mudanças, tudo funcionou perfeitamente. Graças ao trabalho de muita gente, entre empregados próprios e terceirizados e gerentes, a empresa não parou um segundo sequer!

É verdade que alguns trabalhadores mantiveram sua rotina presencial em virtude das especificidades das suas funções, mas os trabalhos administrativos puderam ser feitos exclusivamente a distância – e a empresa continuou indo muito bem, obrigado. Tivemos lucro recorde, recebemos prêmios nacionais em virtude da alta qualidade dos serviços públicos prestados e soubemos que houve uma economia significativa por parte da empresa.

Os problemas da economia, que já davam seus primeiros sinais desde 2020 e afetaram uma boa parte da cadeia produtiva do Estado e do país, não atingiram a companhia, felizmente, impactando positivamente até na PLR. Além disso, nas conversas com os colegas, foi possível perceber que houve um ganho gigantesco em termos de bem-estar entre os trabalhadores.

Muitos estavam felizes por não precisarem mais ficar longe de seus filhos na hora do café da manhã ou do almoço, outros puderam economizar muito em gastos com alimentação (afinal, comer em casa é bem mais barato e saudável!), transporte (os combustíveis aumentaram muito nesse período e continuam aumentando!), vestuário e até medicamentos, considerando a melhora na saúde física (para quem praticou exercícios com mais regularidade) e mental.

Nesse último aspecto, tivemos o maior ganho: sem o estresse do trânsito, sem a necessidade de ter que acordar tão cedo, com menos gastos e com maior flexibilidade para dividir suas funções profissionais com as atribuições domésticas, além da maior convivência com a família, entre outros aspectos, pudemos realmente estabelecer uma relação diferente com o trabalho, mais saudável e feliz, algo que não imaginávamos ser possível há alguns anos.

Até mesmo nossa produtividade cresceu e conseguíamos dar conta de tarefas e reuniões de forma mais concentrada e eficiente. Porém, a partir de janeiro de 2022, embora tanto se tenha falado em “Novo Normal” e muito se tenha prometido em termos de inovação nas relações de trabalho, voltamos ao velho normal de sempre.

Os impactos negativos foram (e ainda são!) muito fortes: ansiedade e depressão voltaram a dominar os relatos dos colegas, estresse por conta do trânsito e das cobranças rígidas de ponto, preocupação com o aumento dos gastos com alimentação e combustível, além da perda diária de cerca de duas a três horas a mais em função do trabalho presencial, gerando uma desmotivação perceptível no dia a dia.

Se o trabalho havia se integrado perfeitamente à vida durante 2020 e 2021, agora o presencial voltou como um grande estorvo para muita gente, gerando consequências negativas tanto para a empresa quanto para os empregados, pois certamente haverá um aumento no absenteísmo por conta dos atestados, pedidos de demissão por parte dos mais jovens, que buscarão oportunidades em empresas mais flexíveis, bem como queda de produtividade e diminuição do bem-estar.

Embora a empresa venha prometendo trazer uma proposta de trabalho remoto híbrido desde o ano passado, até agora o que se viu foi a postergação infinita do prazo e a falta absoluta de comunicação acerca da questão, levando boa parte dos empregados a perderem as esperanças de que algo possa ser feito sem a interferência dos sindicatos.

No fim das contas, é a empresa que perde uma oportunidade excelente de se antecipar e oferecer uma modalidade de trabalho eficiente, inovadora e produtiva, com grandes chances de gerar impactos positivos no bem-estar geral de empregados e familiares e consequências bem-vindas até mesmo para o trânsito e o meio ambiente das maiores cidades do Estado, indo ao encontro dos valores que a empresa diz praticar e defender. Afinal, se fomos tão felizes no casamento do trabalho remoto com a produtividade e o bem-estar dos empregados, por que não viabilizar ao menos uma forma híbrida de trabalho que possa agradar a todas as partes envolvidas? Ainda aguardamos respostas…

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