Tribuna Livre: Só a luta nos garante

Por Mário Jorge Maia, o Marinho, trabalhador aposentado da Celesc e Coordenador Geral do Sinergia

Terminamos na Celesc nossa data-base, mas é uma data no tempo, nossa luta continua o ano todo. Foi umas das negociações mais difíceis que tivemos em todos os tempos, porém,essa categoria e a organização sindical da Intercel fazem a diferença.

Começamos a planejar a campanha no dia 4 de maio deste ano, num cenário de crise econômica, de instabilidade política, de violentos ataques aos trabalhadores e em plena efervescência do processo de campanha eleitoral. Apesar desta conjuntura desestimuladora, sabíamos estar iniciando uma negociação com o setor létrico que não teve perdas na crise econômica do País. Não deveriam ter problemas de ordem financeira para atender nossas reivindicações.

Entretanto, sempre se ouve na categoria que “em ano eleitoral é mais fácil”: ledo engano. Como só a luta nos garante, lembrando que não adianta ficar passivo no local de trabalho sem envolvimento nas paralisações ou na greve, o ataque da Diretoria da empresa veio forte com interdito proibitório, denúncias de assédio moral contra a categoria, através das ameaças e, posteriormente, a discriminação. Um dia após a última rodada e com o edital das assembleias publicado, a gente entraria em greve a partir do dia 26 de setembro. Mas o presidente apareceu e tivemos três reuniões no mesmo dia, um grande desafio. Tudo apontava para um feroz enfrentamento.

De um lado, os eletricitários, umacategoria de grande mobilização, articulados em uma unidade estadual de grande poder de ação. De outro, a Diretoria, com novos negociadores, trocas de diretores no comando da empresa. Foram os escalados para dar uma demonstração de força para o movimento sindical, mostrando que os tempos mudaram e que agora o jogo é bruto.

A categoria tem confiança e sabia que estavam bem representados. Isto estimulou e redobrou a coragem dos dirigentes sindicais que, nas reuniões com o presidente, conseguiram avançar na proposta. Os sindicatos da Intercel, por sua vez, conseguiram rapidamente decodificar, ter clareza e serenidade para tomar as decisões corretas em meio aos diferentes caminhos e escolhas que se apresentaram no processo das negociações.

Foram 6 rodadas de negociações e mais três reuniões com o presidente, de ansiedade e de muita força de vontade até a assembleia que aceitou a proposta que conquistamos. É bem verdade que não conseguimos toda a pauta, mas conseguimos algo muito maior, a oportunidade de politização e o respeito da categoria que representamos. Se o acordo não é o dos nossos sonhos, está longe também de ser a derrota que a diretoria desejava nos impor.

Só a luta nos garante

A conquista do abono dos dias parados coroou a campanha e calou os que duvidavam da nossa capacidade de luta na conjuntura adversa. Prevista para ser utilizada como punição para todos os trabalhadores e seus sindicatos, foi derrotada pela nossa tenacidade. Há coisas que nos surpreendem na luta: ao conquistar o abono dos dias de paralisações, um trabalhador fez um depósito na conta bancária do Sinergia de parte do valor restituído das paralisações.

Perguntado o porquê disso, respondeu que ter consciência de classe é reconhecer a luta, a unidade da categoria e o empenho das entidades sindicais que compõem a Intercel. É fundamental para a vitória e união da categoria, pois quem vai à luta para conquistar direitos, pode ter os dias descontados.

Mas nossa organização sindical é fabulosa e tem até no ACT a cláusula para discussão dos dias parados em defesa da Celesc ou de nossos direitos e, como de forma arbitrária, a Diretoria já tinha descontado os dias. Nada mais justo que dividir com o Sindicato parte do ressarcimento.

Mostramos que, com mobilização, com a unidade e com a capacidade de negociação, os trabalhadores podem garantir direitos e avançar, mesmo nas condições mais imprevisíveis.

A conquista do abono dos dias parados coroou a campanha e calou os que duvidavam da nossa capacidade de luta na conjuntura adversa.

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