ARGENTINA, 1985 Nunca más

Uma parte dos países do Cone Sul teve em suas histórias períodos de ditadura militar, como Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. Muitas cicatrizes e traumas ficaram nessas populações, mesmo que alguns não reconheçam ou idolatrem os regimes ditatoriais e suas torturas. Em um momento no qual a extrema-direita cresce, bem como seus partidos fascistas, relembrar as marcas desses regimes é fundamental. E é deste modo que Argentina, 1985, filme exibido no Festival do Rio e lançado recentemente no Amazon Prime Video, se estabelece em 2022.

Alguns meses após o término da ditadura militar argentina, o recente governo democrático de Raúl Alfonsín, em meio a diversas incertezas de todos os lados, toma uma atitude corajosa e necessária, mas extremamente complicada: levar a julgamento os líderes das forças armadas, responsáveis pela perseguição, tortura e desaparecimento de milhares de pessoas durante os anos de 1976 e 1983. Para tanto, o procurador público Julio César Strassera é nomeado para o trabalho, precisando montar uma equipe de acusação e reunir o maior número de provas possíveis em um período de cinco meses.

A Argentina sofreu por períodos ditatoriais, sendo o mais duro e violento referente aos anos de 1976 a 1983, quando a presidente Maria Estela Martinez de Perón foi deposta, tendo a junta militar colocado no poder Rafel Videla. Acredita-se que mais de 30 mil pessoas foram mortas durante a última ditadura militar argentina.

Com o fim da ditadura e o período da retomada da democracia, muitos pediram por justiça e condenação dos militares. No Brasil, isso também aconteceu e ainda acontece, mas ao contrário do que ocorreu no Brasil, o Tribunal de Justiça argentino julgou, de forma histórica, os militares responsáveis pela barbárie que aconteceu.

Pelo fato do filme ser baseado em fatos reais, o simples conhecimento disso já seria suficiente para causar, no mínimo, incômodo na plateia, porém a direção vai além e investe em sequências detalhadas de relatos das vítimas, especialmente de Adriana Calvo de Laborde, causando um verdadeiro nó na garganta ao ouvir o terror sofrido por aquelas pessoas.

A relação entre o experiente procurador e os jovens que integram sua equipe evidenciam a necessidade da colaboração entre as gerações. Strassera, com todo seu conhecimento, experiência e renome, só pôde completar o trabalho porque havia Luís Moreno. O campo e o resto da equipe de jovens inexperientes, mas munidos da sagacidade e da coragem que já faltavam em seu líder. É a união necessária para exorcizar o fantasma da barbárie do fascismo.

E é essencialmente sobre isso que trata Argentina, 1985. É a responsabilização de quem causou tanta dor e sofrimento para uma nação inteira por todos aqueles anos em nome do puro sadismo simplesmente porque podiam. É, conforme o próprio elenco do filme relatou em entrevista, a volta ao passado para que ele não se repita. Que assim seja.

Filme: Argentina, 1985
Direção: Santiago Mitre
Roteiro: Mariano Linás, Martín Mauregui, Santiago Mitre
Elenco: Ricardo Darín, Peter Lanzani, Alejandra Flechner, Paula Ransenberg, Carlos Portaluppi, Antonia Bengoechea, Laura Paredes, e outros.
Disponível no streaming Amazon Prime.
Fontes: BBC, Plano Crítico, Ultraverso

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