Tribuna Livre | S10? Ou S zero?

Por Jeferson Reis, trabalhador da Celesc na Regional de Concórdia e dirigente do STIEEL

No início da década de 80, em quase todos os domingos à tarde, eu aguardava ansioso junto com meus pais a visita do meu tio. Ele possuía um Opala 1979 modelo SS, na cor vermelha, um verdadeiro ícone sobre rodas da Chevrolet. Nosso programa de domingo era dar um passeio de Opalão pelas ruas de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. Sob o comando do meu tio, o forte e confortável GM Opala deslizava pelas avenidas da cidade, enchendo o ar com nostalgia de um tempo em que os carros eram mais que meios de locomoção, eram parte da familia.

Em 2002, fui surpreendido pela chegada do meu pai em minha casa, com uma D20 ano 1998, série Conquest, como o próprio nome já dizia, uma verdadeira conquistadora das estradas, camioneta forte e imponente. Meu pai, todo orgulhoso, guiando sua D20, escrevia mais um capítulo na história de viagens em familia que se desenrolavam quilômetro a quilômetro, com a robustez daquela camioneta. Além do motor MWM turbo diesel, mostrava força que ia além de uma carroceria resistente; o carro era lindo, uma verdadeira obra de arte.

Hoje, em contraste com essas duas lendas sobre rodas, está a Chevrolet S10, uma camioneta que, ao contrário das antecessoras, demonstra fragilidade, e parece ter perdido o vigor que era uma marca registrada dos antigos modelos Chevrolet.

Claro que os modelos são lindos, mas está provado que não suportam o trabalho pesado e as adversidades das atividades realizados pelas equipes de emergência da Celesc. O veículo se mostra fraco, os relatos de quebras frequentes de suspensão e problemas crônicos de freio são constantes.

É como se a S10, em sua busca pela modernidade, tivesse perdido a essência que tornava os veículos da GM Chevrolet tão especiais. O conforto e a confiança que experimentávamos nos bancos do Opala e da D20 parecem ter se dissipado no ar, dando lugar a uma sensação de fragilidade que permeia cada quilômetro percorrido na S10.

Nos últimos 20 anos, a Celesc trabalhou com vários modelos de viaturas de emergência. Posso citar aqui as famosas Bandeirante, as Hilux (na minha opinião, foram as melhores) e Ranger (outra decepção). Tiveram alguns experimentos e testes realizados com algumas outras marcas como a IVECO, Land Rover (uma gambiarra), e o Jeep Marruá.

A camioneta S10 tem se mostrado frágil e, mesmo sem carregar o equipamento de cesto aéreo (alguns “gênios” resolveram resgatar a escada giratória), um verdadeiro retrocesso. Mesmo com capacidade bem reduzida de carga, elas quebram e, somado a tudo isso, temos a terceirização da gestão de frotas. Com isso, as camionetas quebradas ficam vários dias nas oficinas, devido à burocratização imposta pela empresa que gerencia os consertos, que ganha muito dinheiro para administrar a frota da Celesc. Uma empresa de Minas Gerais que tem seus trabalhos feitos de forma remota, causando um grande “delay” no atendimento. Motoristas, rezem para não quebrarem na estrada, principalmente em lugares isolados, pois o tempo médio de espera de um reboque costuma ultrapassar quatro horas, um verdadeiro desrespeito com os trabalhadores.

Não podemos parar por aí. A frota de veículos da Celesc está envelhecida. A renovação deveria acontecer a cada cinco anos, mas o tempo médio ultrapassa os sete anos de uso, o que aumenta os problemas mecânicos. Condições climáticas adversas estão mais frequentes, o que aumenta o deslocamento, e os indicadores estão cada vez mais apertados, logo, o atendimento precisa ser rápido, eficiente e seguro para atender o famigerado DEC.

Além disso, um dos indicadores também trata sobre o gasto com manutenção, o famoso OBZ, ou seja, o cobertor é curto; se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Enquanto recordo os domingos animados no Opala e as aventuras inesquecíveis com a D20, sinto uma nostalgia profunda de uma era em que os carros eram mais do que máquinas; eram companheiros de viagem resilientes. A S10 atual, por sua vez, parece carregar não apenas passageiros e equipamentos, mas também a fragilidade, deixando saudade de uma época que se perdeu no retrovisor.

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