Tribuna Livre: Privatização da Eletrobras, escândalo sem igual

Por Mauro Passos, empregado aposentado da Eletrosul. Foi dirigente do Sinergia, vereador e deputado federal

O governo passado teve de tudo: diamantes para uns, ações da Eletrobras para outros. O baixo clero se beneficiou de emendas nem sempre republicanas e, pelos corredores do Congresso, as “rachadinhas” corriam soltas. Para agravar esse quadro de tamanha desfaçatez, no dia 8 de janeiro, movimentos antidemocráticos e golpistas invadiram e destruíram os prédios símbolos da República.

Muitas pessoas que se diziam de bem, sem qualquer pudor, resolveram se aproveitar da situação. Santa Catarina não conseguiu ficar de fora. Sem se importar com os municípios e o bem estar dos munícipes, prefeitos também se acharam no direito de botar a mão no dinheiro das suas cidades. Segundo o Gaeco, ligado ao Ministério Público Estadual, um caso até então inédito pelo número de gestores públicos envolvidos. Só esse ano, dezesseis prefeitos foram presos e estão na cadeia. Por ironia do destino, sujaram suas mãos mexendo com o lixo. Até onde se sabe, todos apoiaram o governo passado.

Não se contaminar num país que nos últimos quatro anos virou uma republiqueta, com pilhagem à luz do dia e malfeitos em todos os setores, é um esforço diário dos que estão perto do poder. Muitas vezes os “jabutis” passam, sem que se perceba o tamanho do bicho. A privatização da Eletrobras, entre todos os casos que se conhece, é o que melhor se apresenta como ousadia sem limite para se apropriar do que é público. Um golpe quase perfeito, envolvendo lobistas, congressistas e investidores inescrupulosos. Por conhecer bem o setor elétrico e o Congresso, sempre comentava nas redes sociais e em meu blog a armação que estava em curso e do tamanho do “jabuti” que criaram.

Durante a entrevista coletiva de Lula, dia 6, em Londres, ao ser indagado sobre a privatização da Eletrobras, o presidente foi preciso e cirúrgico ao explicar em poucas palavras suas razões: segundo ele, um grupo de pessoas se reuniu para fazer um grande negócio e enriquecer com esse negócio. O salário dos diretores é um acinte, R$ 360 mil/mês. Os conselheiros para participar das reuniões, pasmem, R$ 200 mil por reunião. Até a turma da Faria Lima está calada diante do escândalo envolvendo a privatização da Eletrobras. Os que tramaram e se beneficiaram dessa situação, vão ter que responder pelo que fizeram. (*)

Num outro momento da entrevista, Lula mostrou conhecimento e tranquilidade ao explicar as condições societárias impostas ao governo, que mesmo tendo 43% das ações, não tem nenhum poder sobre a empresa. Seu voto vale o equivalente a 10% das ações. Se, porventura, quiser aumentar sua participação societária terá que pagar três vezes mais do que os atuais detentores das ações pagaram. Novamente é bom saber se algum investidor sério e responsável se juntaria a esses aventureiros de plantão. (**)

(*) Por se tratar de interesse público, durante meses venho perguntando ao atual presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior, se ele confirmava seu salário de R$ 360 mil por mês. Nunca respondeu. Agora, o presidente Lula confirmou.

(**) As absurdas condições societárias criadas, se tornaram públicas. São os novos tempos: todo o rigor na apuração dos fatos sobre o ocorrido.

PS – O “jabuti” da privatização da Eletrobras engordou demais. Ele não consegue mais ficar dependurado no galho, vai cair. Antes tarde do que nunca.

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