Tribuna Livre: Celesc pública e as duas Coreias

Por Leandro Nunes da Silva, Representante dos Empregados no CA da Celesc

Resposta à jornalista Estela Benetti em publicação veiculada na NSC no dia 22/03/2022: Estela Benetti, bom dia.
Li com absoluta incredulidade a matéria publicada em sua coluna no dia 22 de março, intitulada “Sem privatização, EDP pode deixar a Celesc, indica CEO”.

Não pela sua iniciativa de registrar a manifestação do Presidente da EDP Brasil sobre a intenção declarada da empresa com DNA Português/Chinês de que a Celesc Distribuição, estatal catarinense onde a EDP Brasil é minoritária, seja privatizada. Longe disso. O que me causa absoluta descrença são os argumentos utilizados pelo CEO da EDP para justificar a possível privatização da Celesc. Seria cômico, se não fosse intencionalmente construído para enganar a sociedade de Santa Catarina. Segundo o Presidente da EDP, a manutenção da Celesc como empresa pública seria semelhante a sistemas econômicos cuja identificação se assemelha ao comunismo, citando casos como a Venezuela, Cuba e a Coreia do Norte.

O comparativo é tão descabido, que demonstra claramente que mesmo eles, ditos especialistas do setor elétrico mundial, não tem justificativas à privatização da Celesc, apostando na fratura política da disputa “esquerda-direita” para tentar vincular a imagem da Celesc Pública a um suposto combate ao comunismo, algo vivo na cabeça das pessoas nas discussões cotidianas por conta da polarização eleitoral dos últimos anos. De forma objetiva, a finalidade da privatização do setor elétrico no Brasil nunca foi para trazer luz, mas para ganhar dinheiro!

No comparativo entre as Coreias, apresentado na matéria publicada em sua coluna, a escuridão da Coréia do Norte estaria nos outros Estados do Brasil, não em Santa Catarina. Isso porque a qualidade do serviço prestado pela estatal catarinense é reconhecida nacionalmente, estando a Celesc sempre entre as melhores do Brasil, em pesquisa auferida pela ANEEL, com a tarifa de energia elétrica MAIS BARATA DO PAÍS dentre as 52 concessionárias de energia elétrica do Brasil.

Reforço: manter a Celesc Pública não é uma questão de comunismo ou capitalismo (e aqui não vou nem entrar no mérito da contradição do maior acionista individual da EDP em Portugal ser o Governo chinês), é uma questão de soberania e garantia energética para o povo de Santa Catarina, que tem índices de continuidade na prestação de serviço de distribuição de energia elétrica dentro dos padrões regulatórios e a tarifa de energia mais barata do Brasil.

Em verdade, a comparação entre os regimes políticos proposto pelo presidente da EDP Brasil se aplica de maneira inversamente proporcional a Santa Catarina, um Estado que historicamente tem sido governado com viés liberal, atraindo investimentos privados, novas indústrias e empresas de grande porte, justamente porque conta com uma empresa pública que investe pesado no desenvolvimento da região, em volumes maiores do que a maioria das empresas privadas no setor elétrico pelo país afora.

A EDP Brasil comprou as ações da Celesc sabendo de sua condição de acionista minoritária. Como o próprio CEO da empresa deixa claro, nunca existiu um compromisso de alienação do controle da Celesc pelo governo ao longo desse período. Se essa condição não for suficiente para o portfólio da EDP, o mercado de capitais está em pleno funcionamento para regular a saída do setor de Distribuição de energia elétrica de Santa Catarina e, vendo o copo meio cheio dessa equação, seria uma oportunidade e tanto para o próximo governador recomprar essa fatia da Celesc a fim de mantê-la ainda mais pública, patrimônio dos catarinenses.

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