Especial: 35 anos do Jornal Linha Viva

O que aprendi com o Linha Viva

Por Alessandra Mathyas, jornalista do Linha Viva de 1997 a 2001, e do Jornal Contato/Sindinorte por inúmeras edições. Hoje, especialista em Relações Internacionais e Energias Renováveis, coordenadora da Rede Energia & Comunidades (www.energiaecomunidades. com.br) e analista de conservação no WWF-Brasil (www.energia.wwf.org.br)

O ano de 1997 iniciou para mim cheio de esperanças. Depois de passar por experiências na primeira “rádio que tocava notícias” de Florianópolis, aprendendo o dia-a-dia de uma redação de rádio ao vivo, de assessoria de imprensa em editora conceituada, de repórter de TV que ia do buraco na rua à votação na ALESC, fui percebendo que a vida de jornalista não era glamourosa tampouco valorizada. Se você é uma foca então, aceita tudo para mostrar que pode, e tudo que quer é uma chance para mostrar seu valor. E é onde mora a pressão, o assédio e a exploração.

Faltavam poucos dias para minha formatura quando uma professora me ligou dizendo “Ale, você teria interesse em trabalhar em um sindicato como jornalista?”, pensei, por que não? Tenho tanto a aprender. E com meus recém feitos 21 anos de idade lá fui eu para uma entrevista, numa casa linda no centro da cidade. Fui pensando: e se me acharem muito nova, inexperiente, porque afinal, é o que sou”. Fui mesmo assim. Aprendi na faculdade – e com minha família – que a verdade é sempre a melhor apresentação.

A entrevista foi ótima. Em meados de janeiro, foi a primeira vez que do outro lado da mesa numa seleção estava uma mulher, que foi gentil, amável, me apresentou a casa, falou das atividades, mostrou o LINHA VIVA e perguntou: Você aceitaria trabalhar com a gente? Fiquei encantada. Além de carteira assinada, eu teria uma carga horária fixa, direitos garantidos, um espaço de trabalho agradável e cheio de história. Disse, se você acha que eu consigo, então eu consigo. Ela me informou que ainda seriam feitas entrevistas com outros candidatos mas que me avisariam dos resultados. Fevereiro começou em festa, com o dia da minha formatura. Uma celebração familiar, afinal a primeira da família a concluir uma faculdade pública.

Obrigada UFSC! Estava tão ansiosa por isso que até esqueci do possível emprego. No dia seguinte, um telefonema na minha casa, confirmando minha contratação no SINERGIA, para ser uma das jornalistas do LINHA VIVA, da INTERCEL e da INTERSUL. Desde então minha vida profissional estava traçada.

Com os eletricitários aprendi sobre direitos humanos (conhecendo histórias e apoiando a causa dos atingidos por barragens e os trabalhadores sem terra). Vivi momentos de luta coletiva únicos, como a união sindical e de outros movimentos sociais na criação do Movimento Unificado Contra a Privatização – MUCAP. Lembro bem do dia que criei a logo para a capa do LV. Conheci o estado de ponta a ponta, durante as assembleias para os acordos coletivos e campanhas de mobilização como a ENERGIA É UM BEM PÚBLICO.

E foi o trabalho com comunicação sindical que me despertou ainda mais o interesse por História. Iniciei outra faculdade (linda UFSC!) e meu trabalho de conclusão de curso foi sobre a História dos Eletricitários do Norte de Santa Catarina. Depois dele, um mestrado, também sobre a História de Joinville, cidade que me acolheu, onde encontrei o amor e constituí família.

Em 2003, não mais como empregada da INTERCEL, foi como assessora de comunicação parlamentar na Câmara dos Deputados, que continuei envolvida no tema de energia. Estudei e descobri porque o mundo precisava estar atento à transição energética necessária, a partir de fontes renováveis de energia. Que nosso país tem potencial para as mais distintas fontes. E que, mesmo no segmento renováveis, mais importante que limitar a emissão de gases de efeito estufa, é saber que a energia tem um propósito, de melhorar a vida das pessoas, de todas elas, em todas as regiões. Então, iniciei com outras organizações da sociedade civil uma luta contínua para a antecipação das metas de universalização de energia no Brasil.

Inaceitável um país com tanto potencial ainda ter alguns milhões de pessoas sem acesso seguro, firme e limpo de eletricidade. As novas renováveis não devem cometer os erros do passado.

Em 1º de fevereiro de 2023 celebrei 26 anos de formatura da minha primeira graduação. E até hoje trabalho com o tema energia, me tornando uma referência feminina. E isso tudo eu devo àquela mulher sindicalista, com nome de heroína da nossa história (Olga), que acreditou em uma menina recém-formada para assumir uma tarefa política árdua e tradicionalmente masculina, que por muitos anos foi o sindicalismo. E claro, com o passar dos anos, aos demais diretores e colegas dos sindicatos, pessoas inesquecíveis e que dão sua vida pela causa.

O aniversário é do LINHA VIVA, mas com certeza, sou eu que até hoje sou agraciada com os presentes da vida, muitos frutos das aprendizagens da luta sindical.

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