A volta dos manicômios e eletrochoques

“Estar adaptado a uma sociedade doente não é sinal de saúde.”

Jiddu Krishnamurti 

Em nota técnica o Ministério da Saúde, no início do ano, divulgou novas diretrizes para a Política Nacional de Saúde Mental. Entre as alterações, constam a compra de aparelhos de eletroconvulsoterapia – eletrochoques – para o Sistema Único de Saúde (SUS), a volta a toda força dos hospícios, internação de crianças em hospitais psiquiátricos e abstinência para o tratamento de pessoas dependentes de álcool e outras drogas. Com 32 páginas, o documento sobre as mudanças na Política de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas retira o protagonismo da política de redução de danos, adotada há 30 anos no país, após esforços do movimento de sanitaristas e de luta antimanicomial.

Esta nova abordagem do governo brasileiro faz lembrar um livro lançado na Itália que conta a história de mulheres marcadas pela vida em um manicômio, onde eram encaminhadas e ali ficavam porque combatiam e contrariavam o Estado Fascista, e por isso eram taxadas de loucas. Para tratar dessa loucura era aplicada a terapia do aprisionamento, com a pretensão de libertá-las das condutas que conflitavam com as regras impostas pelo regime da época.

O livro mostra que as mulheres que se recusaram seguir os ideais propostos pelo fascismo, precisavam ser reeducadas através da disciplina do asilo. A escritora Annacarla Valeriano conta em seu livro Malacarne-Mulheres e Asilo na Itália Fascista (Donzelli Editora , 2017) as histórias de algumas dessas mulheres e como viveram em manicômios, por conta de serem contra o fascismo. O livro resgata a história dessas existências perdidas, através de uma documentação rica de arquivos: fotografias, diários, cartas, relatórios médicos, materiais inéditos que contam como foi essa triste experiência sobre o enfoque feminino das mulheres confinadas no manicômio Sant’Antonio Abate de Teramo.

O livro tenta restaurar a humanidade e a dignidade de todas aquelas e foram expulsas, presas e removidas da sociedade no período fascista. Finalmente em 1978 uma lei fechou estes manicômios na Itália.

Vale lembrar que no Brasil até os anos 1970 os manicômios também serviam para “disciplinar” aqueles que fugiam da “normalidade”. A luta contra manicômios combateu a indústria lucrativa da loucura. Hospícios usavam violência e torturas.

A Reforma Psiquiátrica, definida por Lei 10216 de 2001 transferiu o foco do tratamento que se concentrava na instituição hospitalar, para uma Rede de Atenção Psicossocial, estruturada em unidades de serviços comunitários e abertos. As condições da saúde mental no Brasil evoluíram, porém a Luta Antimanicomial não parou.

Ainda acontecem manifestações em todo o país no dia 18 de maio, para que se mantenha vivo o cuidado com os doentes, e para que fique claro que eles não devem ser excluídos da sociedade e maltratados como eram antigamente, mas sim orientados e acompanhados para que possam encontrar seu lugar no mundo. As fotos desta páginas são das presas no manicômio Italiano de Teramo.

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