Tribuna Livre: Que cidade queremos…

Por Mauro Passos, trabalhador aposentado da Eletrosul, ex-dirigente do Sinergia, ex-vereador por Florianópolis e ex-deputado federal por Santa Catarina

Na década de 90, no primeiro mandato de vereador, um conhecido político local comentou sobre minha surpreendente eleição. Segundo ele, só se deu porque a cidade estava atrás de novidade. Ele mesmo, vereador com vários mandatos, definia o eleitor da época em três grandes grupos: um grupo ultra conservador, os que votavam pela cerveja e uma minoria consciente, que tinha um potencial de voto bastante limitado. (*)

De lá para cá, muita coisa mudou, só que alguns ainda não querem admitir. A cidade cresceu, o eleitor se modificou e Florianópolis precisa se encontrar com o futuro. A foto escolhida mostra isso. Quem quiser vai do aeroporto ao centro pedalando. Coisa que o meu filho fazia em Washington, dez anos atrás. E o que tem isso a ver com a cidade? Aparentemente, nada; ao meu ver, tudo. A ciclovia visualmente sinaliza o acolhimento para a inovação, a racionalidade, a mobilidade urbana e a vida saudável. (**)

As melhores cidades em qualidade de vida no mundo, são antigas e estão na Europa. Todas elas, sem exceção, incorporaram a bicicleta como uma importante alternativa de locomoção. Em algumas, chegam a representar cinquenta por cento de todo o deslocamento urbano. Aqui se usa pouco, mas está crescendo. Em 2024, na eleição para prefeito, a mobilidade urbana pode decidir que cidade queremos.

No feriado da República, dia 15, a cidade parou. Tudo cheio: as praias, o Centro Histórico, o Parque da Luz, o Parque do Córrego Grande, o Parque de Coqueiros, as lagoas do Peri e da Conceição, a Beira Mar, a Ponte Hercílio Luz e os cafés que são cada vez mais procurados. Em menos de quatro décadas, Florianópolis se transformou. Uma cidade não se transforma sem que os munícipes se transformem também. É um processo que muitas vezes não é nem percebido, mas está presente no nosso cotidiano.

Portanto, dois anos nos separam da escolha de um novo prefeito. Por tudo que observo, a cidade está pronta para se encontrar com alguém que tenha a sua cara. Que seja jovem nas atitudes, que encare com naturalidade as bikes, as ondas e os skates. Que seja leve e comprometido com as mudanças que Florianópolis precisa. Quem acredita nisso, precisa se juntar. Construir essa aproximação é tarefa nossa. Se envolver com um projeto alternativo de gestão, também. Como dizem os jovens, bora lá.

(*) Conheci Florianópolis no verão de 1973, quando vim fazer o curso de nivelamento para pós-graduação. Foi pura paixão. Voltei quatro anos depois para a Eletrosul e nunca mais saí.

Em 1996 me elegi vereador pela primeira vez, foi uma grande surpresa. Só não foi maior do que em 2002, quando sai de vereador para deputado federal. Os resultados eleitorais vieram em função da marca que deixei de combater sem trégua a corrupção. Uma luta que começou antes mesmo do PT existir, quando a extinta ARENA tomou conta da Eletrosul. Roubaram tanto que inviabilizaram uma usina hidroelétrica, Ilha Grande. A maior da Região Sul. Toda a diretoria foi afastada.

(**) Numa das minhas idas ao BID, meu filho, que fazia seu doutorado em Washington, tinha ido no aeroporto me esperar de bicicleta. Até a sua casa, uma hora pedalando. Toda a ciclovia bem sinalizada e protegida. Risco zero.

PS: É incompatível uma cidade moderna, arejada e sustentável, conviver com um governo atrasado. Tanto é verdade a mudança em curso em Florianópolis, que Lula por pouco não ganhou. Antigos políticos locais, foram varridos do mapa. São os novos tempos.

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