Tribuna Livre: loucura e servilismo conduzidos ao extremo

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Por José Álvaro Cardoso, economista

As possibilidades da conjuntura são inúmeras, várias alternativas estão em aberto, o que dificulta muito a compreensão precisa do que acontece e, por consequência, a construção de prognósticos seguros. Mas se pode afirmar com razoável grau de certeza que a vida dos trabalhadores, que são a esmagadora maioria, irá piorar com o governo que assumirá em janeiro de 2019, em todos os aspectos.

O golpe em processo no Brasil sofreu um aprofundamento, um novo degrau, com a eleição de Bolsonaro (a mais fraudada da história) e veio para terminar a destruição da malha de direitos, conquistada a duríssimas penas ao longo de décadas. E também para reduzir a renda real dos trabalhadores. A julgar pelas declarações, mesmo descontando as bravatas, os ataques que a população trabalhadora sofrerá serão os mais duros da história. O que irão tentar colocar em prática é uma outra concepção da relação Estado/Sociedade, na qual o que restou de “Estado do bem-estar social”, que sempre foi muito débil no Brasil, será desmontado. Por exemplo, tudo indica que o ensino público, em todos os níveis, corre sério risco. As universidades serão os prováveis alvos iniciais. Se não houver reação da sociedade, irão avançar para níveis mais elementares. A desejada privatização do ensino, do novo governo ultra neoliberal, não é somente uma estratégia para reduzir gastos públicos (para pagar juros da dívida pública), mas visa também abrir espaços de negócios para o setor privado, nacional e internacional, procurando mitigar, para o capital, a crise internacional.

Se houver correlação de forças favorável, deverão tentar aplicar uma “política de choque” que, como o próprio nome já antecipa, visa deixar a população sem reação e tentando entender o que está acontecendo, pelo menos por um tempo. Em parte, já usaram essa técnica no governo Temer, em dois anos e meio, período em que destruíram conquistas de quase um século da sociedade, valendo-se de informações falsas e muita confusão entre os trabalhadores. Mas precisam, no governo ultradireitista de Bolsonaro, completar o serviço. Como as medidas serão contra os interesses da população, usarão de propaganda maciça, para confundir, como vêm fazendo desde o início da construção do golpe em curso. Além disso, terão que acelerar, pois as medidas têm que ser implementadas enquanto o governo ainda dispuser de um certo estoque de popularidade. A tendência é esta se esvair, à medida que as políticas forem sendo conhecidas e compreendidas, ou seja à medida que a “ficha cair”.

Política neoliberais, que são um mecanismo de aumento da exploração da população, são impopulares no mundo todo. E o que pretendem implantar no Brasil são políticas neoliberais extremas (e fora de moda), como a ideia de privatizar todo o ensino público. Somente mentes muito desclassificadas e subservientes ao extremo, poderiam defender medidas deste tipo para um país complexo e importante como o Brasil. Ademais, as políticas neoliberais, em função de sua natureza, não combinam com liberdade e democracia. Onde são implantadas, vêm acompanhadas da diminuição da democracia, o que em boa parte, já ocorre no Brasil. Á medida que as políticas forem radicalizadas, a tendência é a democracia se estreitar ainda mais.

Um risco que deve ser considerado é uma possível “política de choque” do governo Bolsonaro, coincidir com o agravamento da crise financeira internacional, que vem se ensaiando no mundo. Se uma crise financeira internacional forte surpreender o Brasil com política fiscal contracionista, o perigo de uma rápida deterioração da situação econômica é muito grande.

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