Tribuna Livre: A energia dolarizada e suas consequências

Por Mauro Passos, ex-dirigente do Sinergia, ex-vereador por Florianópolis e ex-deputado federal por Santa Catarina

No dia 26 de julho, em São Paulo, ocorreu a cerimônia de premiação da FULL ENERGY. Entre os selecionados, pessoas que foram identificadas como referência no setor de energia. Embora tenha justificado minha ausência por razão de compromissos já assumidos, o reconhecimento de uma trajetória de vida ficará marcado para sempre. Tanto assim que o comentário publicado no Linkedln sobre minha indicação, com cerca de 3000 visualizações, mostra a importância de se pautar a independência energética no desenvolvimento do país.

Em texto anterior que escrevi, sem saber direito a motivação pela premiação, passei a atribuir ao alerta que venho fazendo sobre energia a elétrica dolarizada e suas consequências. O desastre vai ser para toda a sociedade, principalmente para os milhões de consumidores que não terão como pagar a conta de luz. Não precisa explicar o que significa na vida das pessoas o corte de luz. Aos que não têm essa percepção, sugiro que desliguem o disjuntor de entrada por uma semana. Aí sim, estaremos todos conscientes da falta que nos faz a energia elétrica.

Quando o poder público se afasta da sua responsabilidade, tudo se agrava. Com a Eletrobras privatizada e obrigada a engolir os “jabutis” do presidente da Câmara, Arthur Lira, pouco resta a fazer. A situação só piora a partir de maio de 2023, quando se encerra o Acordo de Itaipu. Depois de cinco décadas, a segunda maior usina geradora de energia do mundo estará paga. E foi paga com a receita da energia que gerou para o Brasil e para o Paraguai. O Acordo também previa a obrigatoriedade do Paraguai vender a parte da energia que lhe cabia para a Eletrobras. (*)

O bloco de energia que o Paraguai nos entrega é maior do que qualquer outra grande hidrelétrica brasileira. O que nos impõe uma negociação difícil pela frente, já que não podemos abrir mão desse volume de energia. Segundo fontes confiáveis entre as alternativas que estão sendo estudadas pelos paraguaios, uma é a possibilidade de uma comercialização direta no mercado livre brasileiro. O significado disso, ao meu ver, é que os consumidores cativos ficarão ainda mais vulneráveis as políticas tarifárias abusivas. A moeda circulante nessas negociações – é o dólar. O dinheiro que chega no bolso do consumidor brasileiro – é o real. Portanto, se preparem!

(*) Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, como se fosse o planejador do setor elétrico brasileiro, incorporou na privatização da Eletrobras 8.000 MW de energia térmica a gás, onde não tem gás e nem usina. A conta do desatino é impagável e vai impactar na tarifa.

PS – Em 2019, início do governo Bolsonaro, abafaram uma negociata em curso sobre a comercialização do excedente da energia de Itaipu. Enquanto aqui se deprecia e esquarteja a Eletrobras, a estatal do Paraguai (ANDE) estuda o que fazer com o bloco de energia que passará a administrar a partir de maio de 2023. Até onde se sabe, boa parte da receita dará suporte ao Plan Nacional de Desarrollo do Paraguay/2030, mais conhecido como PND 2030. É o Paraguai investindo os bilhões de dólares que virão da energia de Itaipu no seu futuro.

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