Saúde mental em tempo da pandemia da Covid-19

POR NERY ARTUR ELLER, PSICÓLOGO (CRP: 12/21442)

Em uma pesquisa recente realizada pelo Zenklub (uma grande plataforma de saúde emocional e desenvolvimento pessoal do Brasil) e o Instituto Datafolha, constatou-se que 64% dos trabalhadores brasileiros não possuem nenhum
benefício para cuidar da saúde mental em tempo de pandemia. Nessa mesma pesquisa, pode-se verificar que para 86%, benefícios como terapia online, aliado a treinamentos de habilidades emocionais, pode trazer bons resultados aos trabalhadores, fazendo-os lidar melhor com os impactos negativos deste período.

A sobrecarga de trabalho nos últimos 12 meses foi muito sentida por 6 em cada 10 brasileiros. Diante desse quadro, 66% dos trabalhadores tiveram problemas de ansiedade; a exaustão ou muito cansaço foi apontado por 61% deles; a insônia ou dificuldade para dormir apareceu para 54%. Por sua vez, a depressão se fez presente num percentual de 26%.

Entre as mulheres, os problemas emocionais se fizeram ainda mais presentes. A depressão entre as mulheres que têm filhos, por exemplo, atinge um percentual de 28%. A ansiedade está presente em 69% das que não possuem filhos. Os dados também apontam que quanto mais jovem (entre 18 a 24 anos), maiores são os sintomas de exaustão e cansaço (apontado por 70% delas). Entre as que têm idade entre 25 e 34 anos, essa exaustão chega a 67%.

A pesquisa foi conduzida pelo Instituto Datafolha de forma presencial com 1.197 pessoas com 18 anos ou mais, pertencentes a todas as classificações econômicas e PEA (Pessoa Economicamente Ativa) que trabalham, conforme critérios da PNAD 2019. Um total de 129 municípios foram envolvidos nessa pesquisa. De uma forma ou de outra, essa pandemia do Coronavírus desencadeou em nós uma mudança significativa na vida, atingindo o mundo como um todo. Num tempo bastante curto, o mundo precisou se adaptar a essa nova realidade. Houve grandes modificações nas relações pessoais e profissionais e, a partir disso, surgiram grandes impactos na economia de todos os países.
A necessidade de ações drásticas e imediatas em nossa sociedade para lidar com essa pandemia refletiu diretamente no estado psicológico das pessoas. As nossas preocupações do dia a dia foram potencializadas e se somaram a outras que antes não existiam.

Essa nova realidade causou impacto na saúde mental das pessoas, gerando cada vez mais estresse e ansiedade. Alguns dos sintomas físicos e mentais sentidos são: falta de concentração, desesperança, irritabilidade, insônia, tédio, frus –
tração, raiva, problemas gástricos, dor de cabeça, cansaço e fadiga. Em função das caraterísticas peculiares de
cada pessoa, as situações estressantes provocadas pela pandemia são sentidas de forma diferente. Em alguns casos, os impactos são bastantes consideráveis, em outros, moderados e, para alguns, leves ou imperceptíveis. Em geral,
os problemas mentais durante a crise se devem aos seguintes fatores: ao isolamento, ao distanciamento social, à redução de estímulos, à redução ou perda de renda e às mudanças na rotina.

O estresse pode aparecer pelo medo de ficarem doentes ou morrerem, evitação de serviços médicos por medo de contaminação, preocupação ao obter itens de abastecimento, como remédios e alimentos, entre vários outros aspectos. Nem sempre é fácil perceber os sintomas da depressão e ansiedade. Muitas pessoas seguem suas vidas de forma funcional, sem sinais aparentes de que algo não vai bem em suas vidas.

É de fundamental importância que estejamos atentos a mudanças significativas na qualidade de vida de uma pessoa (um familiar, um amigo, um colega de trabalho, dentre outros). Sensações prolongadas de tristeza ou de inutilidade e abuso de substâncias como álcool e drogas são pontos de alerta que devem desencadear ações de nossa parte.

Dentro das possibilidades de cada pessoa, em casos onde o indivíduo esteja tendo uma vida disfuncional e não adaptativa, é importante que se procure ajuda especializada para tratar adequadamente o sofrimento dela.

Sempre devemos ter em mente que SEM SAÚDE MENTAL NÃO HÁ SAÚDE.

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