Relatório da Oxfam faz retrato das desigualdades brasileiras

Estudo demonstra que a redução da desigualdade de renda estagnou no país entre 2016 e 2017

O novo relatório da Oxfam Brasil, intitulado “País estagnado: um retrato das desigualdades brasileiras”, demonstra que a redução da desigualdade de renda estagnou no país entre 2016 e 2017. De acordo com Rafael Georges, um dos responsáveis pelo estudo, entre a população mais pobre “percebemos, entre 2016 e 2017, uma variação de decrescimento, ou seja, uma redução geral da renda, sendo que negros e mulheres perderam mais, enquanto no topo houve uma retomada que foi melhor para os homens e a população branca”.

Entre os mais pobres, exemplifica, os negros “ganhavam 675 reais em média e passaram a ganhar 658 reais, ou seja, tiveram um decrescimento da renda”, enquanto a população branca “teve um pequeno crescimento da renda, passando de 902 para 975 reais. Isso mostra que os negros, mesmo num momento de retomada muito lenta da economia, são sempre os últimos a ser incluídos.

Negros são sempre deixados para trás

A relação entre brancos pobres e negros pobres, que era de 72%, ou seja, um negro pobre ganhava 72% do que ganhava um branco pobre, caiu para 68%. Quando se olha o topo da distribuição, houve um incremento geral, mas os brancos incrementaram suas rendas muito mais do que os negros. Houve um incremento para os brancos de cerca de 17% da renda, enquanto os negros mais ricos do topo tiveram um incremento de menos da metade disso, de 8%. Então, os negros são sempre deixados para trás”, informa.

Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por telefone, George menciona também que a renda média da metade mais pobre da população é de 787,69 reais. “Hoje, dentre as pessoas com rendimentos no Brasil, cerca de 20% a 30% da população ganha até um salário mínimo, o que deve significar, quando incluímos a renda da família, que cerca de 60% da população vive com menos de um salário mínimo. Esta é a proporção: dentre os que têm renda, 30% da população ganha menos de um salário mínimo”, relata.

Volta ao patamar de desigualdade de 2012

O pesquisador frisa ainda que os dados do relatório demonstram que o Brasil recuou cinco anos em termos de redução das desigualdades, retornando ao patamar de 2012. “Isso acende a luz amarela. Quando falamos que houve um recuo na renda, os dados são frios, mas estamos falando de milhões de pessoas que voltaram para um nível de vida indigno”, adverte. Na avaliação dele, a redução da desigualdade de renda depende de duas reformas urgentes, a tributária e a da Previdência.

“Esse debate é muito difícil porque existe uma assimetria no acesso ao orçamento público: grupos organizados conseguem garantir o seu quinhão do orçamento público, enquanto a ‘saúde’ e a ‘educação’ não têm um lobby forte. Ao mesmo tempo, a sociedade vê o judiciário ajustando seus próprios salários, e a destinação de royalties do pré-sal para a educação é reduzida pela metade”. E acrescenta: “Soluções fiscais não podem ser puramente fiscais; elas têm que ser sociais e têm que trazer os benefícios sociais na equação. (…) Hoje estamos trabalhando com um espaço orçamentário para gastos sociais de 17 anos atrás. Isso tem que ser revisto para que se retome a redução das desigualdades no país.”

Percebemos, entre 2016 e 2017, uma variação de decrescimento, ou seja, uma redução geral da renda, sendo que negros e mulheres perderam mais enquanto no topo houve uma retomada que foi melhor para os homens e a população branca.

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