Poesia: A Casa

Por Dinovaldo Gilioli, poeta e escritor

a casa não é parede
que circunda os ossos da pele
mais que concreto
a casa é o repouso da alma
em tempos de ventos fortes

a casa é simulacro
que respira entre
os poros do forro
é o teto que acolhe
as lágrimas espessas
os risos encorajados de alegria

a casa é o quintal
que circula pelas frestas
é o piso dos pés
que rompem a manhã
é o alicerce suspenso
é o sonho carcomido pela espera

a casa é o tempo
que escorre pelos dedos
é o olho que se projeta no medo
é a circunstância que impõe
o voo da descoberta

a casa é quase
o sentido sem sentir
é aconchego
é faca que corta
a noite escura
é tempero que ilumina
em torno da mesa
o bolo a cereja

a casa é o espanto
da mão que fere
o gozo dos dedos que acarinha
o rosto exposto
o sono desperto
na madrugada fria
é o ritmo do coração
o som das calhas encharcadas

a casa é o colo
o desespero da perda
o vazio que transpassa
o fogo a cama a fumaça
o toldo amparado pela brisa
é a luz do poste na esquina
a casa é o sol guardado
na caixinha de surpresas
o céu enfeitado de vagalumes
a terra decorada de guirlandas
é o espinho de jardim sem flores
a roupa dos amores
a casa é quase-morte
é renascimento
é invento
é quase-nada
é tudo num minuto

a casa não é o que parece
nem carece de definições

a casa é chegada
é despedida
o entra e sai da vida

toda casa
é recomeço

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