O gato, a empresa pública e o papel de um parlamentar

Por Afrânio Bopré,
vereador em Folianópolis pelo PSOL

No último dia 10 de fevereiro, recorri à ouvidoria da Celesc para denunciar uma suspeita de ligação irregular de energia no empreendimento da roda gigante instalada no bolsão da Casan, na Avenida Beira-Mar, no Centro de Florianópolis. Estive pessoalmente no local, na véspera, fotografei a fiação, ligada diretamente no poste, sem nenhum tipo de controle ou registro.

No mesmo dia, usei a Tribuna da Câmara para informar que fiz a denúncia, questionar a atuação da Prefeitura no processo de instalação do equipamento e alertar para os riscos à segurança dos usuários. Acredito que seja papel do vereador fiscalizar o Poder Executivo e zelar pela cidade e pela segurança de seus habitantes. 

Sei que a Celesc é uma empresa conceituada, com uma grande estrutura e muito bem avaliada pelos serviços que presta. Mas confesso que foi com uma certa surpresa que vi, no meu e-mail, já no dia seguinte ao protocolo, uma resposta da Ouvidoria, assinada por Reinaldo Arcendino Fernandes, com o seguinte teor: “Referente a manifestação conforme resposta da área responsável, informamos que: Conforme fiscalização em campo foi desligado em 11/02/2020 as 11:00h, cliente terá que regularizar para pedir vistoria de ligação nova.”

A eficiência técnica da empresa e a pronta resposta expuseram para a cidade um grande absurdo: a Prefeitura de Florianópolis, associada a uma empresa de grande porte do ramo de diversões, promovendo um gato na ligação pública de energia. Ou seja, a Prefeitura sócia de um furto na rede elétrica da Cidade.

O “gato” do Gean virou assunto na Cidade. A imprensa deu ampla cobertura e a Prefeitura atrapalhou-se para tentar explicar o inexplicável.

A empresa instalou seu equipamento em espaço público nobre da cidade e cobra ingressos: R$ 20,00 durante a semana, e R$ 25,00, nos finais de semana. Em contrapartida, segundo a PMF, oferece três mil ingressos para programas da rede solidária da Prefeitura de Florianópolis, Somar Floripa, coordenado pela Primeira-dama. Além disso, contribuirá com instalação fixa de banheiros no local, segundo a imprensa, obra projetada pela mesma Primeira-dama. Ou seja, a empresa já é bastante beneficiada pela Prefeitura, cobra ingressos que não são baratos, explora propaganda nas cabines, oferece poucas contrapartidas e ainda furta energia pública.

Esse episódio, lamentável, é educativo para a cidadania que deve fiscalizar o poder executivo e preservar o correto uso de recursos que são públicos, como a energia. É ilustrativo também do modo irresponsável e improvisado que já se tornaram marca da maior parte das ações do governo Gean. Não sou contra o empreendimento e o entretenimento que oferece, mas sou contra o “jeitinho”, a ilegalidade e cumpri minha função de fiscalizar e denunciar.

O fato também revela que o serviço público, tão injustamente atacado, é eficiente, prestativo e zeloso. Felicito a Celesc, empresa pública e, especialmente, seus trabalhadores.

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