Fake news
Por Lilia SchwarczJair Bolsonaro foi tentar emitir uma série de informações indevidas sobre o livro “Aparelho sexual e Cia”, uma obra que traz informações para adolescentes acerca de todos os aspectos da sexualidade, com sólida base pedagógica e rigor científico. Justamente por sua seriedade e pela importância do tema — cuja dificuldade de tratamento foi superada pela leveza na abordagem de assuntos como a paixão, as mudanças da puberdade, a contracepção, doenças sexualmente transmissíveis, pedofilia e incesto —, a obra foi publicada em 10 línguas, vendeu mais de 1,5 milhões de exemplares no mundo, e foi transformada em exposição, que ficou em cartaz duas vezes na Cité des Sciences et de l’Industrie, em Paris, e viajou por 7 anos pela Europa, sem que tivesse recebido qualquer acusação ou reprimenda.
Ao contrário, virou um modelo de como informar os jovens sobre temas importantes e incontornáveis, a partir de abordagens cuidadosas, e não pelas redes virtuais ou outros veículos que não têm controle de qualidade. O conteúdo da obra nada tem de pornográfico, uma vez que, formar e informar jovens adolescentes sobre sexualidade com responsabilidade é, inclusive, preocupação manifestada pelo próprio Estado, por meio de sua Secretaria de Cultura do Ministério da Educação que criou, dentre os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), um específico à “Orientação Sexual” para crianças, jovens e adolescentes. Aliás, o livro conta com uma seção chamada “Fique esperto”, que alerta os adolescentes para situações de abuso, explica o que é pedofilia — mostrando como tal ato é crime —, o que é incesto e até fornece o contato do Disque-denúncia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos.
Ao contrário do que afirmou o candidato à Presidência em entrevista ao Jornal Nacional na noite de 28 de agosto, ele nunca foi comprado pelo MEC, como tampouco fez parte de nenhum suposto “kit gay”. O Ministério da Cultura comprou 28 exemplares em 2011, destinados a bibliotecas públicas. Procurar censurar livros sem lê-los e a partir de argumentos que não dizem respeito à obra em questão é atitude eticamente comprometida e que não honra o estado democrático e republicano que todos nós, brasileiros, temos dever de defender.