Especial 35 anos do Linha Viva

História e Luta, por Luiz Cézare Vieira, diretor de Imprensa do Sinergia entre os anos 1996 e 1999 e trabalhador aposentado da Celesc

Em dezembro de 2022 Leonardo Contin, jornalista do Sinergia, me mandou um whatsApp, pedindo para escrever algo sobre minha experiência como diretor de imprensa do Linha Viva. Fiquei surpreso quando ele falou que em março de 2023 o nosso querido tablóide completará 35 anos de existência. E com ele, o alegre mascote Urbaninho, testemunha ocular e semanal de uma história bem sucedida.

Logo o filme da memória começou a rodar. Dei um salto de 27 anos para o passado, até o ano de 1996, quando participei da diretoria do Sinergia como diretor de imprensa até 1999. Desde 29 de junho de 1989 o LV era o jornal da Intersindical base Celesc e Eletrosul, integrando num mesmo discurso os eletricitários do Estado.

Entrei no olho do furacão, o mundo dos eletricitários vinha abaixo com as políticas privatistas de FHC e conflitos intermináveis com as diretorias das estatais. Como consequência, muito trabalho, os sindicatos fervilhavam, nervos dos diretores à flor da pele.

Mais ou menos nessa época aconteciam os debates sobre uma nova concepção sindical, o Sindicato Cidadão. Superar o corporativismo, interagir com os demais movimentos sociais, discutir empresas públicas sob a ótica da qualidade dos serviços à população eram algumas das pautas do sindicalismo que abraçávamos no Sinergia.

Só quando entrei e rodei as primeiras edições do jornal, tomei conhecimento do balaio de gato que havia me metido. Explico. O Linha Viva não era apenas um jornal informativo, mas principalmente um instrumento político fundamental para a comunicação com a base. O que saía ou deixava de sair refletia a política sindical. E sempre faltava alguma coisa. Resultado: sobrava para o diretor de imprensa o ônus das desavenças.

Mas um anjo me iluminou e decidi criar um conselho editorial, uma das coisas mais acertadas que fiz na vida de sindicalista. Funcionava assim: toda segunda-feira o conselho se reunia para definir a pauta do próximo jornal. É claro que chamei para tal conselho os diretores mais polêmicos, entre eles Mauro, Glauco e Delman.

Foi uma maravilha, solucionado 90% das brigas em função do jornal, mas mesmo assim, vez por outra, a coisa explodia. Atento a tudo, o cartunista Frank fez uma tirinha num jornal, remetendo para a história os nervosos fechamentos do LV.

Outro debate recorrente era sobre a mudança do projeto do jornal. Alguns desejavam que o jornal se ativesse às questões corporativas. Lembro que eu e o camarada Dino éramos os principais adversários dessa proposta. A cultura, o debate de visões de mundo eram propostas do Sindicato Cidadão e acabaram prevalecendo.

Sempre que recordo os tempos à frente do Linha Viva, lembro de três jornalistas: Gastão, Cristina e Frank Maia. Gastão o pai do projeto do jornal e sempre atento às deturpações, ele e Cristina excelentes profissionais, redação impecável, incansáveis trabalhadores, muitas vezes sob pressão de uma máquina sindical agitada.

E Frank Maia, chargista, que partiu cedo. Ele nos visitava toda quarta-feira e deixava no jornal as marcas da inteligência e sutileza. Frank, com seu senso de humor, foi uma das pessoas mais leves que encontrei.

O Linha Viva, um fenômeno editorial do sindicalismo brasileiro pela sua duração e qualidade, está associado a duas palavras: luta e história. Instrumento da práxis de uma categoria que superou o egoísmo. Mas é também acervo, memória de uma história contada com registros semanais.

Uma das gratificações que tive na vida foi um dia ter participado desse coletivo com colegas brilhantes, combativos, idealistas, altruístas.

Vez por outra acompanho alguma edição do LV em sua forma moderna, digital, bonita, colorida.

Além dos eletricitários, o Urbaninho ganhou o mundo para contar com olhar crítico sua versão das coisas.

Parabéns a todos os que participaram e os que participam desta história, parabéns aos eletricitários de SC que nunca deixarão a peteca cair.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.