Especial: 35 anos do Jornal Linha Viva

O Linha Viva e eu celebrando 35 anos de caminhada
Por Rosangela Bion de Assis, jornalista, poetiza, presidenta da Cooperativa Comunicacional Sul

Guardo numa pasta preta jornais amarelados e esburacados pelas traças, fotos em preto e branco e textos que não se encontram na Internet. Esse banco de dados analógico me transporta para 1988, ano em que eu conheci o Linha Viva, jornal semanal do Sinergia, que o jornalista Gastão Cassel havia acabado de lançar, em março daquele ano.

O dia que entrei pela primeira vez na sala no fim do corredor do sexto andar do Dias Velho, escrevi sobre uma hipotética greve dos eletricitários na máquina de escrever usando a lauda do próprio Linha Viva. Glauco Marques, diretor de imprensa na época, me comunicou, dias depois, que eu havia sido selecionada. Tive que disfarçar os fogos de artifício que explodiam internamente pela alegria da conquista do primeiro emprego como jornalista.

Entre 1988 e 1991, muitos jornalistas e estudantes do curso da UFSC, encontraram, como eu, trabalho em sindicatos que acabavam de ser fundados ou haviam derrotado direções pelegas. De tanto nos encontrarmos nos atos unificados e nos eventos da cidade, criamos o Núcleo Organizado de Imprensa Sindical (Nois). Sem registro na legalidade, o NOIS viabilizava o compartilhamento de textos, fotos e experiências sobre a imprensa sindical e o jornalismo.

Em maio de1991, esse grupo, apoiado por dirigentes sindicais de diversas entidades e pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), produziu quatro edições do jornal da Greve Geral, totalizando 120 mil exemplares.

Participei das três primeiras edições do Jornal, nos meus últimos dias no Sinergia. Fazer parte daquela grande redação, em que cada um pode produzir o que fazia melhor, foi a teoria colocada em prática.

Mas as diferenças políticas nos recolocaram em nossas salas, em nossas demandas específicas e esse é um dos motivos pelos quais a soberania comunicacional nunca esteve entre as nossas metas prioritárias. Fomos e continuamos a ser vencidos pelo discurso de ódio, pelas mentiras e manipulações.

Mas a força dessa possibilidade, construída com liberdade e união, ficou em mim. Em 2016, fazendo parte do Portal Desacato e da Cooperativa Comunicacional Sul, foi o Jornal Unificado que inspirou o Jornal dos Trabalhadores e Trabalhadoras (JTT) em vídeo, semanal.

Proposta que foi ampliando até tornar-se diária, em 2021, transmitido simultaneamente em Youtube e Facebook do Portal Desacato, com narração em Twitter e resumos no Instagram. E Já são quase 500 edições diárias.

Esse ano, eu e Linha Viva completamos 35 anos de labuta dedicada à classe trabalhadora. Revisitando esses primeiros anos da minha caminhada profissional, eram tantas lembranças boas, algumas doces como o sorvete colegial da Baraúna (lembra Gastão?), outras radicais como a greve de fome de 1988, algumas impensáveis como a viagem de ônibus até o Monte Verde pra revisar o jornal antes da impressão.

A assinatura de Vítor Schmidt na minha carteira de trabalho simboliza as pessoas éticas e queridas que pude conviver e seguem ao meu lado. As exceções ficam por conta dos que ficaram em nossos corações: Janice Bitencourt e Frank Maia presentes.

Naqueles anos iniciei uma jornada que me levou para outros sindicatos, para a Pobres&Nojentas e para o Portal Desacato, onde trabalho e milito pelo jornalismo independente e excluído, inclusivo e protetivo, pelo direito humano à informação e pela Soberania Comunicacional.

Vida longa ao Linha Viva!

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