Eles querem roubar nossa identidade

Por Paulo Guilherme Horn,
diretor do Sindinorte e jornalista da Intercel

tribuna livre

Nos últimos três anos tenho, todo primeiro de maio, feito um exercício de avaliar as notícias sobre o dia do trabalhador e escrever sobre isso. Em geral, a grande mídia insiste em subverter o real significado deste dia. Mas o que chamou a atenção neste 1º foi a total falta de divulgação do dia do trabalhador. As poucas matérias divulgadas sobre o dia davam ênfase ao feriado, à festa e às opções para curtir o dia de folga.

Os principais colunistas políticos dos jornais do Estado, não escreveram uma linha sobre o dia. No Diário Catarinense, as publicações do dia de Moacir Pereira destacam uma aula sobre tecnologia, uma defesa da reforma da previdência e uma nota sobre uma regata em Itajaí. Upiara Boschi destaca a crise no Partido Socialista Brasileiro (PSB) aqui no estado, com ação da direção nacional contra o mandato de dois deputados estaduais catarinenses.

Carolina Bahia destaca o pacote de “ajuda” do governo Bolsonaro aos Estados. Estela Benetti, colunista de economia, trata sobre a alta taxa de desemprego, se referindo, novamente, ao dia como “dia do trabalho”. No A Notícia, a situação é a mesma. Jeferson Saavedra e Claudio Loetz não tocam no assunto. Os demais colunistas são os mesmos do Diário Catarinense – resultado de um monopólio da informação que só será verdadeiramente combatido com a regulação da mídia.

O fato é que, se antes o que se via era a necessidade de relegar ao trabalhador o papel de sentir-se agradecido por ter um patrão que lhe dê emprego – objetivo, na minha visão, desta tentativa de fixar a data como dia do trabalho e não do trabalhador – agora o objetivo é apagar o trabalhador da história. Se antes o papel do trabalhador, para esta elite de rapina que governa o país, era o de subalterno explorado que deve ficar sempre agradecido pelos “grilhões” que os prendem, agora o trabalhador deixa de existir.

As tentativas de apagar o trabalhador da história não são novas. No início da onda neoliberal, o trabalhador já era individualizado, dividido e recebia um novo nome: colaborador. A palavra, que significa trabalhar junto, ganhou o estigma das ideias neoliberais e virou uma ofensa aos trabalhadores. A partir dela outras denominações surgiram, com ênfase no parceiro. Até mesmo a palavra “empregado” foi ficando para trás, por que emprego sugere uma ligação direta e, em tempos de terceirização e quarteirização do trabalho, qualquer vínculo deve ser eliminado.

Pode parecer coisa pequena essa intransigência com como somos chamados. Mas, na verdade, não é. Nós somos trabalhadores. Qualquer outro termo é a tentativa de eliminar nossa identidade. O trabalhador só tem uma chance de lutar por seus direitos a partir do momento em que se reconhece como um trabalhador. A partir do momento em que compreende que a força vem da união e da consciência de classe.

É por isso que é tão importante para a grande mídia, braço mais armado da elite rapineira, subverter o dia do trabalhador em um dia sem história. É por isso que é tão importante para eles que o trabalhador seja individualizado e caia no conto da meritocracia. Por que, assim, sem consciência de classe, sem pensar no coletivo, vai um pisando no outro para subir sem perceber que, no fundo, fazem voluntariamente o trabalho de destruição da classe trabalhadora que tanto interessa os donos do poder.

A melhor forma de comemorar o dia do trabalhador é tendo consciência de quem somos e qual a nossa luta. Nós somos trabalhadores e juntos avançamos.

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