Editorial: A confrontação visceral com a realidade de volta

Jornal Linha Viva retorna a circular entre os eletricitários, informando e mobilizando a categoria

Em 19 de fevereiro de 2020 o Boletim da Intercel informava aos trabalhadores sobre as medidas de isolamento social adotadas pelas empresas no combate à pandemia de COVID-19. Com a adoção do Home Office e com as incertezas do início da pandemia, a principal comunicação dos sindicatos com os trabalhadores entrava em um longo hiato, encerrado nesta edição. Criado em 1988, o jornal Linha Viva nunca tinha sofrido uma interrupção tão longa.

Semanalmente, o jornal era entregue nos locais de trabalho, cumprindo com a missão de informar e mobilizar os eletricitários nas lutas por direitos e pela manutenção das empresas públicas. Neste período em que não circulou o jornal, as informações foram disseminadas por Boletins, com um caráter mais corporativo, noticiando as negociações e demandas internas.

O jornal tem um caráter mais político: ele debate a realidade sob a ótica dos trabalhadores. Gramsci dizia que “os jornais são aparelhos ideológicos cuja função é transformar uma verdade de classe num senso comum, assimilado pelas demais classes como verdade coletiva – isto é, exerce o papel cultural de propagador de ideologia”. Gabriel Garcia Marquez, um dos maiores escritores latino- -americanos era jornalista. Dizia que o jornalismo era uma “paixão insaciável que só pode ser digerida e humanizada por sua confrontação visceral com a realidade”.

Neste sentido, o jornalismo sindical ganha ainda mais sentido, porque não há nada mais visceral do que a realidade dos trabalhadores. O jornalismo é um trabalho de persistência. E para que a realidade visceral dos trabalhadores seja notícia, ela precisa ser produzida pelos próprios trabalhadores. Por que se o jornal é um aparelho ideológico, é evidente que a grande mídia propaga a sua ideologia. E é exatamente por isso que a luta dos trabalhadores não tem espaço em grandes jornais.

A classe trabalhadora deve produzir sua comunicação e disputar a sociedade. Se a grande mídia abre espaços (constrangedores) para que privatistas mintam à população e influenciem a opinião pública, é porque essa é a sua ideologia. E, neste contexto, o Linha Viva precisa voltar a retratar a luta dos trabalhadores, por que, sem ele, a luta não aparece. Quando o Linha Viva foi suspenso, a situação da classe trabalhadora não era boa. Um projeto político de destruição de direitos estava em curso e seus entusiastas faziam barulho.

Os donos do poder aproveitaram-se da pandemia para atacar ainda mais o povo brasileiro. As mortes decorrentes da irresponsabilidade do Governo Federal ocultavam as manobras para aprofundar um projeto político e econômico neoliberal. Nesta onda, as privatizações avançaram perigosamente, fazendo que seus defensores saíssem das sombras. Retomamos a publicação e distribuição do Jornal Linha Viva pessimistas com inteligência e otimistas com a vontade.

Gramsci de novo: “em cada circunstância, penso na hipótese pior, para pôr em movimento todas as reservas de vontade e ser capaz de abater o obstáculo”. Sabemos que o momento é difícil. Mas é por saber das dificuldades, que faremos a disputa da comunicação, defendendo as empresas públicas e mobilizando os trabalhadores, na certeza de que a categoria está disposta à luta, como sempre esteve.

É por saber das dificuldades, que faremos a disputa da comunicação, defendendo as empresas públicas e mobilizando os trabalhadores, na certeza de que a categoria está disposta à luta, como sempre esteve.

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