TRIBUNA LIVRE | Rio (10/4/1984) X Av. Paulista (25/2/2024), que retrocesso…

Por Mauro Passos, trabalhador aposentado da Eletrosul, ex-vereador em Florianópolis e ex-deputado federal de Santa Catarina

Quis o destino que, em 1984, fosse com a família estudar no Rio de Janeiro. Em função do que fazia na Eletrosul, fui cumprir os créditos do mestrado em planejamento
energético na COPPE/UFRJ. Por uma feliz coincidência, um ano de muita agitação política. A sociedade estava tomada por um sentimento de liberdade, motivada pela campanha das DIRETAS JÁ. De janeiro a abril daquele ano, o povo estava nas ruas. Grandes nomes da política arrastavam multidões. Segundo informações coletadas, mais de 5 milhões de brasileiros participaram das manifestações. O Rio era o grande palco.

No dia 10 de abril a cidade parou. No final da tarde, mais de um milhão de pessoas concentraram na Avenida Presidente Vargas. Queriam ouvir seus líderes, queriam exercer a cidadania. Naquela época não havia nada que facilitasse a chegada dessa multidão: não tinha caravana de ônibus, lanche para o povo, voucher deslocamento e outros atrativos. Quem estava ali, queria ter o direito de votar para presidente da República. No ar daquele fim de tarde e chegada da noite, se respirava liberdade.

O tempo passa, mas as imagens daquele dia 10 não me saem da lembrança. Às vezes me pergunto, como se formou aquela multidão. Quem eram aquelas pessoas, de onde vieram, como ocuparam a Presidente Vargas de ponta a ponta. Não havia celular, o primeiro foi lançado em 1990. Internet, nem pensar. Redes sociais, whatsapp, robôs propagadores de notícias falsas, pra época tudo pura ficção.

Na Avenida Paulista, domingo, 25, acompanhando os novos tempos da política do maniqueísmo, as manifestações foram em prol da anistia dos condenados que agiram contra a democracia e os Poderes da República. Que tristeza, como regredimos. Os pronunciamentos vazios, sem qualquer conteúdo político ou preocupação com o futuro do país, não passavam de palavras de ordem para animar uma massa convocada para dar sobrevida a um mito desgastado e assustado.

Com todo o esforço que fizeram, apenas quatro governadores estiveram presentes. Três de olho no lugar do capitão, por ordem alfabética: Caiado, Tarcísio e Zema. Os outros que tiveram acesso a palavra, ou rezaram ou insultaram seus desafetos. Para os que estavam lá, a culpa é do “Xandão” e não adianta explicar. Ninguém quer saber que as provas dos crimes cometidos saíram da boca do fiel escudeiro do capitão Jair, o coronel Cid. Gente amarga incapaz de se dobrar aos fatos, que não se importa de conviver com a mentira.

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