Terceirizar é fragilizar. Gera retrabalho e dá prejuízo à empresa

A Lei da Terceirização e a reforma trabalhista de 2017, tão criticadas por entidades sindicais, facilitaram bastante as terceirizações nas empresas, inclusive na atividade-fim. Dentre os argumentos daqueles que defendem a terceirização irrestrita, há a tese de que ela poderia gerar economia para a companhia. Em uma concessionária pública de energia, como a Celesc, ficaria mais fácil contratar e mandar embora os empregados, sem necessidade de abertura de inquérito administrativo – e facilitando que perseguições políticas pudessem ocorrer.

Uma prova que a economia a partir da terceirização é bastante questionável é o que está ocorrendo hoje na Celesc. A companhia de energia terceirizou os serviços de leitura e entrega das faturas aos consumidores alguns anos atrás. A empresa responsável por fazer a leitura desses medidores em boa parte do estado teve problemas, inclusive com atrasos no pagamento de salários dos leituristas, e consequente greve destes trabalhadores (conforme destacou o noticiário local nas últimas semanas).

O problema com a empresa terceirizada gerou uma série de retrabalhos na Celesc e está acarretando gastos e despesas que a empresa não precisaria ter – sem falar nos danos à imagem da companhia, que são incomensuráveis, já que ela vem sendo criticada diariamente nas redes sociais e em matérias de jornais com relatos de clientes indignados com os valores supostamente discrepantes nas faturas de energia elétrica.

Não somente a área Comercial da Celesc terá retrabalho, mas outros setores também se sobrecarregarão com o problema: no Jurídico, por exemplo, a quantidade de ações judiciais e reclamações no Procon, questionando valores, tende a aumentar e repercutir pelos próximos anos; na Assessoria de Comunicação, naturalmente, o trabalho também aumentará, tendo que dar explicações e satisfações aos jornais e nas redes sociais – fora o duro trabalho de reconstrução da imagem da empresa, já que o consumidor não faz diferença se a falha no serviço foi provocada pela própria Celesc ou por uma empresa terceirizada; entre outros problemas que a situação poderá provocar, como o aumento do estresse de atendentes comerciais ou eletricistas, com clientes indignados com os valores que estão chegando nas faturas de energia.

Além da terceirização dos serviços de leitura, outro problema recorrente de retrabalho e baixa qualidade dos serviços diz respeito às equipes terceirizadas de atendimento a emergências. Quando da contratação de equipe própria, a Celesc investe massivamente em treinamento, capacitação e segurança. Infelizmente, o mesmo não ocorre com as empreiteiras terceirizadas, que priorizam o lucro, em detrimento da qualidade dos serviços. Como resultado, são disponibilizados trabalhadores que não
tiveram acesso ao mesmo nível de treinamento das equipes próprias da Celesc, além de viaturas com recursos inferiores aos da concessionária.

A consequência disso é o aumento considerável do tempo necessário para realização de serviços complexos e a visível diminuição da qualidade dos serviços realizados, fazendo com que um problema “resolvido” em um atendimento emergencial volte a surgir logo em seguida. Muitas vezes, inclusive, com maior gravidade, como, por exemplo, rompimento de condutores ocasionado por má conexão, ou avaria de um medidor de energia, também por má conexão nos bornes do equipamento, sendo necessário empenhar novamente uma equipe técnica para resolver o novo problema. Problema este que não teria existido se o trabalho anterior fosse realizado de forma mais eficiente.

Como se não bastasse o aumento da despesa em função do retrabalho, casos como este refletem diretamente nos índices de continuidade do fornecimento de energia, comprometendo os resultados essenciais para manutenção da concessão. Quais os custos da terceirização destes serviços para a Celesc? Quantas condenações judiciais ou multas a empresa pagará pelos próximos anos por conta de problemas na terceirização de serviços de leitura de medidores e nas equipes de atendimento a emergências?

Quantos empregados próprios serão afetados e deixarão de produzir por conta do retrabalho causado por empresas terceirizadas? Como se pode observar, às vezes, o barato da terceirização pode sair bem caro para a empresa e pode colocar em risco até mesmo a segurança e a vida dos trabalhadores. Terceirização precariza os serviços ao consumidor, causa aumento no custo final dos serviços e a única justificativa para uma terceirização em larga escala dentro de uma empresa pública é, em última instância, provocar a sua privatização.

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