Falta diálogo: presidente da Celesc adia novamente reunião com sindicatos da Intercel

Cleicio Poleto Martins cumpre papel de se apresentar aos empregados, mas fica muito longe do diálogo que destacou como marca de sua gestão

É incompreensível que, após poucos dias de um discurso onde preconizava-se o diálogo, seja exatamente a falta dele o grande problema encontrado pelas entidades sindicais com o presidente da Celesc, Cleicio Poleto Martins. Conforme relatado na edição nº 1438 do LV, a Intercel tinha agendada reunião com o presidente da empresa para hoje, dia 7 de fevereiro. Na pauta, os dirigentes sindicais apresentariam ao presidente o histórico de luta de sindicatos que há mais de 50 anos representam os celesquianos, negociando acordos coletivos de trabalho e defendendo a empresa pública.

Neste caminho, a própria gestão da empresa foi influenciada com a organização da Intercel e a participação dos trabalhadores. A ideia de gestão participativa e dos contratos de gestão e resultados é legado dos Congressos dos Empregados da Celesc, promovidos pelos Representantes dos Empregados no Conselho de Administração e organizados pela Intercel. A própria representação dos trabalhadores, sempre apoiada pela Intercel em um forte impacto na gestão da empresa. Muito além de levar a visão dos trabalhadores a um órgão corporativo, a representação dos trabalhadores busca na Intercel a sustentação para cumprir papéis que a Celesc, infelizmente, não cumpre.

Quando a renovação da concessão ainda era incerta, foram as entidades sindicais que mobilizaram os trabalhadores na Campanha Todos pela Energia. Quando as regras da concessão foram determinadas, a Celesc deixou os trabalhadores sem informações. Novamente, foram os sindicatos que apresentaram aos trabalhadores as normas editadas pela Aneel, através de uma cartilha lançada em 2015.

Recentemente, foi a mobilização dos celesquianos, organizada pela Intercel, ocupando a Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (ALESC) e pressionando os deputados estaduais que garantiu o financiamento do BID à empresa. Estes recursos, que garantirão ao presidente uma gestão com capital para investir e cumprir as metas da Aneel, são fruto do trabalho dos sindicatos e do emprenho dos trabalhadores.

Na pauta da reunião, o esforço dos trabalhadores e a necessidade de respeito e reconhecimento aos seus direitos tem destaque. O presidente, que no mesmo discurso onde pregava o diálogo elogiou as ações tomadas nos últimos anos, deve compreender que elas são fruto de um diálogo franco e aberto com a categoria, sempre através da sua representação: os sindicatos da Intercel. Foi através do diálogo que questões importantes como PCS e PDI foram encaminhadas, com os trabalhadores assumindo prejuízos em defesa do futuro da empresa. Mesmo assim, a categoria deu mostras de comprometimento com o Estado e com os catarinenses, sendo reconhecidos por eles com prêmios nacionais e internacionais de qualidade no serviço prestado.

Ainda lembrando o discurso do presidente, é preciso falar do compromisso assumido de manter a empresa pública. Ao longo dos anos, muitos ataques privatistas à Celesc foram impedidos pelos sindicatos da Intercel. Não é à toa que a Celesc é uma das poucas distribuidoras de energia ainda públicas do Brasil. Foi a atuação organizada e firme dos sindicatos junto aos trabalhadores que impediu que o patrimônio dos catarinenses fosse vendido à preço de banana. Por ser uma empresa que presta um serviço de qualidade (graças aos trabalhadores), a Celesc sempre é alvo dos privatistas. Portanto, se o discurso do presidente não foi da boca para fora, o diálogo com as entidades sindicais é um forte aliado na luta pela manutenção da Celesc Pública.

O trabalhador que lê esta matéria deve estar achando estranho. Afinal de contas, porque a Intercel está antecipando em detalhes a pauta da reunião de hoje com o presidente? Por que ela não vai acontecer. Todo este histórico é resultado do diálogo que, hoje, o presidente nega às entidades sindicais e, consequentemente, aos trabalhadores. Infelizmente, priorizando uma campanha de marketing pessoal, o presidente adiou a reunião com a Intercel. Viajando pelas regionais, o presidente cumpre o papel de se apresentar aos empregados, mas fica muito longe do diálogo que destacou como marca de sua gestão. Lembra um ex-presidente que andava pelas regionais com um “dossiê” do que a Celesc realmente precisava, mas que, ao invés de trabalhar preferia maratonar em outros países.

O cancelamento da reunião agendada para hoje, através de uma mensagem de whatsapp demonstra a preocupação do presidente com as demandas da categoria que são negociadas pela Intercel. Desde a sua posse, as entidades sindicais encaminharam duas correspondências solicitando a abertura do diálogo em prol da Celesc. Até hoje, nenhuma resposta foi oficializada à coordenação da Intercel, que tem usado a Representação dos Empregados no Conselho como interlocução (e até esta está com dificuldade de falar com o presidente). Não existe diálogo quando uma parte não quer falar. E, neste silêncio deliberado, perdem os trabalhadores e a sociedade.

Em tempos antigos e mais conturbados, existiram também presidentes que fechavam as portas à Intercel. Mas a Intercel não é de esperar quieta. Talvez seja a hora do presidente conhecer a capacidade de organização das entidades sindicais e da mobilização dos trabalhadores, para enfim, ouvir a voz dos celesquianos e abrir o diálogo necessário.

Falta diálogo com a sociedade também

Existe um ditado popular que diz: quem cala, consente. É essa a imagem que a Diretoria da Celesc tem passado para o povo catarinense. No início deste ano, o forte calor ocasionou recordes de consumo de energia. As faturas, consequentemente, subiram e a sociedade berrou. Uma enxurrada de manifestações acusava a Celesc de roubar dos consumidores. Procon, vereadores, deputados, colunistas, todos iniciaram uma campanha de difamação da empresa, cobrando ações do Ministério Público. Nas ruas, os trabalhadores passaram a serem hostilizados.

E o que fez a Diretoria da Celesc? Muito pouco. As poucas manifestações em redes sociais soaram como uma tentativa atabalhoada de apagar o fogo, Não houve um plano de comunicação adequado para informar a sociedade e nem uma palavra para defender os trabalhadores. Várias ações poderiam ter sido encaminhadas para minimizar os impactos à imagem da empresa e proteger os celesquianos. Propostas como uma entrevista coletiva com explicações didáticas e a posição de colocar os técnicos da empresa à disposição do MP para fiscalizarem as unidades consumidoras identificadas pelo Procon acabariam com a desconfiança da população, numa atitude pró-ativa.

Mas, novamente, a apatia foi a escolha da Diretoria, que orientou os regionais a não se manifestarem. Nem uma nota nos jornais de maior circulação do Estado foi publicada. Nem um artigo do presidente defendendo a empresa e os celesquianos. Aliás, na última segunda-feira, dia 04, um artigo de Gerson Berti, presidente da Associação dos Produtores de Energia Elétrica de Santa Catarina (Apesc), publicado no jornal Diário Catarinense, fez tudo aquilo que a Diretoria da Celesc deveria ter feito e não fez. “De quem é a responsabilidade pelo aumento na conta de energia? Na opinião pública, a Celesc foi eleita a vilã do mês. É preciso atribuir a responsabilidade a quem tem o dever de planejar, executar e fiscalizar o modelo do setor elétrico escolhido para o Brasil”, afirma Berti.

Detalhando a composição da tarifa e atribuindo a responsabilidade, Berti fecha o texto com aquilo que a Celesc tinha que dizer: “Reclamar da Celesc não resolve, pois não é ela quem determina o preço da energia. O caminho é mudar o modelo vigente que fornece pouca transparência ao consumidor”.

A Celesc é uma empresa pública reconhecida pela sociedade pelos bons serviços prestados. Administrada de forma correta ela é o motor do desenvolvimento social e econômico do estado. Mas, para isso, é preciso diálogo com a sociedade. Ao pecar na comunicação, a Diretoria da Celesc consente com as críticas e acusações que irresponsáveis, seja na mídia, seja no parlamento, fazem à maior estatal catarinense.

O trabalhador que lê esta matéria deve estar achando estranho. Afinal de contas, porque a Intercel está antecipando em detalhes a pauta da reunião de hoje com o presidente? Por que ela não vai acontecer.

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