Celesc: até quando?

Acidentes de trabalho tiram a vida de trabalhadores, enquanto Diretoria da Celesc mantém omissão e irresponsabilidade e tenta enganar Ministério Público

Ao longo de vários anos, os sindicatos que compõem a Intercel têm denunciado o descaso da Celesc com a saúde e segurança dos trabalhadores. Entra diretoria, sai diretoria, a vida dos empregados é posta em risco por omissões e irresponsabilidade. Recentemente, a edição nº 1509 do Linha Viva detalhou a irresponsabilidade gerencial e os impactos dela no aumento expressivo em acidentes de trabalho na empresa. Além disso, as constantes reclamações de trabalhadores acusam a incompetência da Diretoria da Celesc em fornecer equipamentos de proteção individual (EPI) e coletivos (EPC), além de problemas com a manutenção da frota, fato levado à Diretoria de Gestão Corporativa pela Intercel em diversas oportunidades, seja em reuniões específicas ou em encontros da Comissão de Recursos Humanos (CRH). Entretanto, apesar dos constantes alertas das entidades sindicais apontando o crescente risco, nada de efetivo
foi realizado pela Diretoria.

Foi neste contexto que um trabalhador terceirizado teve braço e perna amputados em decorrência de um acidente de trabalho em Lages. Também foi neste contexto que um trabalhador terceirizado morreu em acidente de trabalho em Joaçaba. Tivemos, ainda, o falecimento de um companheiro do quadro próprio, após acidente de trabalho na região de Criciúma. Nesta semana, mais uma morte entrou para as estatísticas da Celesc. Um acidente de trabalho, em Joinville, levou um trabalhador terceirizado a óbito.

O assustador crescimento nos acidentes graves na empresa são resultado de uma política de saúde e segurança que permanece amarrada em um misto de incompetência, irresponsabilidade, acobertamento e omissão. Infelizmente, enquanto trabalhadores são vítimas de acidentes de trabalho, as informações que poderiam ajudar a estabelecer uma política de saúde e segurança não chegam.

A representação da Intercel na Comissão Permanente de Análise de Acidentes de Trabalho (CPAA) tem cobrado celeridade na investigação de acidentes graves, mas tem esbarrado em desculpas e no silêncio. Passados vários meses do acidente de Joaçaba, que levou um trabalhador à morte, somente nesta semana o membro da Intercel na CPAA teve acesso à documentação. O acidente de Lages, que levou um trabalhador a ter membros amputados, foi analisado e encaminhado para sindicância que, até o momento, não se tem resultado e muito menos confirmação de que a mesma foi instituída. Outros acidentes, como o de Tubarão, nem chegaram a ser encaminhados à Comissão.

O próprio Ministério Público do Trabalho (MPT) solicitou que as entidades sindicais formalizassem documento demonstrando como os descumprimentos da diretoria da Celesc ao acordo oriundo da Ação Civil Pública (ACP) de Saúde e Segurança dos trabalhadores tem contribuído para o aumento da frequência dos acidentes de trabalho com empregados próprios e terceirizados.

Mais assustador do que a irresponsabilidade da Diretoria com as políticas de segurança e com os trabalhadores é a constatação de que, deliberadamente, a Diretoria tem se manifestado de forma falsa ao MPT. Na busca por desqualificar as críticas e apontamentos de irregularidades cometidas pela empresa que a Intercel tem registrado a pedido do MPT, a Diretoria se contradiz e evidencia o descaso com a vida dos trabalhadores.

Quando o acidente de Lages ocorreu, os sindicatos se manifestaram ao MPT, dentro da ACP, apresentando as omissões da empresa. Junto à manifestação, as entidades sindicais anexaram documentos que demonstram que o acidente ocorreu, entre outros motivos, pela falta de testar e aterrar a rede. Foram anexados o Alerta de Segurança, a ata da CIPA e a ata da Comissão de Análise, todos com a confirmação da própria empresa do motivo do acidente.

Entretanto, para o Ministério Público, a Celesc afirma que a manifestação da Intercel é equivocada e usa um documento do sistema SIMO para contradizer todos os outros documentos dela, afirmando cobrar o teste e aterramento. Entretanto, a ata da CIPA que debateu o acidente traz relato de um dos trabalhadores terceirizados atestando que a equipe não só não fez o procedimento, como não tinha o equipamento.

Não bastasse a incoerência que aponta para a má-fé, é preciso apontar que a Intercel juntou ao processo documentos oficiais da empresa que analisaram o acidente, com manifestação unânime de todos os participantes atestando os motivos que, com um documento interno, a Celesc tenta se eximir de responsabilidade. Para a Intercel, esta postura demonstra, ainda, que não há política efetiva de saúde e segurança dos trabalhadores, nem respeito aos trabalhadores, próprios, terceirizados e àqueles que sofreram com o descaso da Celesc.

A perda de vidas e os danos à saúde dos trabalhadores é fruto da irresponsabilidade da diretoria por não possuir uma visão estratégica para a segurança numa empresa que tem como atividade principal o ramo da energia elétrica, um setor de alta periculosidade, onde acidentes de trabalho podem ter consequências fatais.

Apesar da Intercel continuar a trabalhar em conjunto com o MPT para buscar segurança e saúde aos celesquianos no atendimento à sociedade catarinense, nada mudará se a Diretoria da empresa não colocar a vida dos trabalhadores como prioridade, definindo políticas sérias, ampliando a fiscalização e comprometendo o corpo gerencial. Até quando a Diretoria vai esperar para agir?

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